Quando eu morrer, morrerão também comigo todos os sentimentos que
senti, cada motivo de um comentário que me fez rir ou as circunstâncias que me
entristeceram. Quando eu morrer, mais uma unidade de percepção do mundo será
extinta, como se eu nunca tivesse existido a não
ser enquanto perdurarem o legado que eu deixar e as lembranças que
causar em quem tive a oportunidade de conhecer. No final das contas,
sou tão insignificante quanto a flor que se desprende da árvore e suavemente
cai no chão. Ambos, nascemos, crescemos e invariavelmente morreremos. Que
diferença faz se eu tive o dom da razão e a possibilidade de refletir sobre meu
próprio destino ? Que diferença faz se aquela flor foi a mais bonita e vistosa
de toda a árvore? Ambos seremos engolidos pela terra e relegado ao
vale do esquecimento eterno. Sinceramente, eu devo admitir que esse
intervalo de tempo compreendido entre nosso início e fim me causa medo. Sim,
tenho medo da vida, medo de errar, medo de me arrepender por somente ter
percebido tarde demais o que deveria fazer, medo de viver como refém do fruto
de minhas escolhas erradas.
Entretanto,
é preciso que saibamos conviver com esta realidade inquestionável que nos
cerca. De que adianta se opor ferozmente à força do tempo ? Simplesmente
tolice. Tal qual um pássaro julgar- se capaz de cruzar uma forte rajada de
vento que a ele se opõe. Não há meios nem fins diferentes, não há considerações
a fazer a não ser às de aceitação. Ainda assim, no auge de minha humilde
percepção ainda ouso resistir. Por que isso ocorre ? Por que não é
possível desfrutarmos eternamente da beleza de sermos jovens ou poder contarmos
sempre com a presença daqueles que gostamos ? Talvez eu ainda não saiba lidar
com verdades inquestionáveis e a necessidade de simplesmente me calar diante
delas.
O
fato é que o Fim é inevitável. De tal modo que o humano e o finito se
confundem. Quer queiramos ou não, nascemos e vivemos para morrer. É preciso o
fim para que o novo possa existir e sobretudo para que nos conformemos que
somos pequenos grãos de areia perdidos na infinitude. Grandes pensadores,
físicos, cientistas e atletas em toda sua majestade um dia morreram para que se
dessem lugar ao novo ainda que imprevisível. A história caminha sempre avante e
mesmo que excepcionais somos apenas um breve capítulo de todo este livro. Não
reconhecer o fim significa se negar a acreditar no futuro. Não aceitar a
morte significa se negar a escrever o presente.