sábado, 12 de março de 2016

A harmonia do detalhe


Frequentemente observo que o ser humano apresenta um enorme fascínio pelo exato, pelo novo. Nesse sentido, não é difícil observar como nossa civilização desenvolveu historicamente uma grande capacidade de exaltar o belo, cíclico e o perfeito em detrimento do desarmônico e assimétrico. Platão, na idade antiga, já afirmava que aquilo que é belo tende ao mesmo tempo a ser justo e bom.  Em grande parte, mantemos esse mesmo raciocínio hoje em dia quando deixamos para comemorar apenas datas redondas ( 10, 25 ou 100 anos de algo ) e sobretudo o início de um novo ciclo; como o início de um novo ano. Considero que, ao agirmos assim, muitas vezes nos equivocamos ao darmos mais valor ao resultado do que ao processo em si. Como se de alguma forma, o último dos dias que compõem um ano fosse mais importante que os demais 364 dias vividos.
Acredito que todo esse fascínio tenha surgido através da necessidade que o ser humano apresenta de encontrar padrões e regularidades em sua vida.  Talvez, em razão disso, tenhamos tanta simpatia em deixarmos um projeto para começar na segunda ou esperamos uma hora redonda para iniciar nossos estudos. De fato, a regularidade e a busca de certos padrões de tempo podem simplificar e facilitar nossa vida. Afinal, não é exatamente o que fazemos quando planejamos e organizamos nossas atividades?  Entretanto, parece-me que o grande problema de vivermos uma vida tão metodicamente traçada e definida por padrões e ciclos, é justamente a possiblidade de perdermos o senso de continuidade.     
Muitas vezes, tendemos a sobrevalorizar o último passo de um enorme desafio por preciosismo ou simplesmente pela necessidade de definir um símbolo da conquista. Da mesma forma como um atleta tende a pensar que uma medalha de ouro em um campeonato é a expressão máxima de seu esforço. Não, não é, e para mim nunca será. O Fato é que pouco a pouco perdemos a noção de que a realidade se faz presente em cada segundo que vivemos, não há fórmulas ou palavras mágicas para nada, muito menos para o sucesso. A continuidade do esforço e da dedicação ao longo do processo são as verdadeiras marcas de uma caminhada exitosa.
Noto que a percepção do ser humano contemporâneo sofreu uma considerável alteração com o desenvolvimento da modernidade. Deste modo, acredito que o conceito de tempo e o senso de continuidade foram gradualmente reduzidos a fragmentos dispersos, sobretudo em uma sociedade que preza cada vez mais pela instantaneidade . Bom mesmo seria se pudéssemos dar valor aos infinitos detalhes que compõem um momento, pois aí residem a harmonia e a verdadeira beleza das lembranças que ficam.  

Recalcule sua rota

Vejo que a vida tem constantemente essa capacidade incrível de nos dizer que não podemos ter tudo que queremos. E quer saber? Tudo bem. ...

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