Nada mais animalesco e primitivo
que este instinto ao qual remonto
A raiva é a potência do caos,
É a destruição presa no seu frasco mais ativo
A raiva é a essência de todo ser pensante
É a expressão de nosso lado mais compulsivo
A raiva é a certeza do inconformismo
É um convite a desfrutar-me daquilo que me é corrosivo
Quando com ela me deparo
Anseio por respostas as minhas perguntas mais complexas
Tenho obsessão por justificativas que me tragam amparo
Venero a certeza e a retidão dos argumentos apresentados
Entretanto, se noto o menor sinal de falha e fraqueza nas suas palavras
Desperto-me para uma indignação incontrolável
Quero encontrar culpados
E direcionar a eles, toda
minha mais completa fúria aprisionada
Já não sou mais capaz de concatenar sentimentos lógicos
Simplesmente quero a materialização daquilo que me foi
negado
O correr do tempo apenas intensifica o meu querer
Exijo respostas, ainda que elas me levem à tristeza
Exijo um retratamento
ainda que não haja culpados
Exijo não ter vivido aquele sofrimento, ainda que seja
impossível
Exijo respostas do tempo e do espaço, ainda que não tenha posição para exigir coisa
alguma
E antes de tudo, eu exijo a capacidade de fazer exigências.
Nada melhor para convencer-me de que ainda posso lutar.
A bem da verdade, eu
só quero o que não posso
Repudio a dor e a fraqueza
Insisto na busca até que as respostas me sejam convincentes
Deturpo minha natureza
A raiva é a potência do caos
É a faísca que precede à explosão
É o instante antes do nada
É o dual o início e a negação
É meu recurso de defesa
É a coragem e o medo
É a covardia e a destreza
O silêncio e o desejo.
Quem responde minhas perguntas,
E a quem dirijo a minha ira ?
Minha insatisfação logo volta-se a mim
Assim, torno-me refém de minha armadilha
Alimentar ainda mais este monstro
Só me torna o culpado e a vítima
Preciso expelir isso de mim.
Melhor ! preciso
canalizar esta força vital em algo produtivo
Preciso enjaular este monstro e faze-lo trabalhar a meu
favor
Pretendo incorpora-lo e explorar seu lado mais agressivo
Deste modo, a raiva não é o que demonstro
é minha ira escravizada
é minha obsessão por respostas me tornando mais assertivo
Começo a encontrar respostas
A raiva não é mais o convite a o que me é corrosivo
É antes de tudo a força da qual emana minha criatividade
É a desordem trabalhando em prol da unidade
Essência humana alguma jamais ultrapassará a raiva como
força interna
A raiva é o frasco potencializador de qualquer qualidade
Simplesmente porque não há nada mais primitivo e atual,
animalesco e
civilizado
A raiva é a expressão máxima do homem e da humanidade