domingo, 29 de dezembro de 2013

divagações

Certa vez ouvi um jovem questionar-se sobre o que seria a liberdade.  E movido pela inquietação e curiosidade tal homem posicionou-se no alto da montanha e gritando a tudo e a todos pronunciou as seguintes palavras “ Eu sou livre !” Seria isso de fato a liberdade ? Pensou ele. Evidente que sim. Vivo o auge do meu vigor físico, posso correr quantos quilômetros qualquer outro homem saudável e bem preparado correria, posso fazer qualquer coisa e ir a absolutamente qualquer lugar que quiser. Ora, por que isso não haveria de ser o exercício da liberdade em sua máxima intensidade ? Retrocou a si mesmo o astuto jovem. Após uma pequena pausa de reflexão, olhou a infinitude do horizonte verde que se desenhava a sua frente. Desde então percebeu como, mesmo que por um breve período, era bom estar ali, longe da sociedade e de suas frenéticas preocupações. 
Era por volta das 18hs e o sol já anunciava sua humilde despedida do dia.  Antes  que esta estrela partisse, o inquieto homem refletiu: Como poderia haver liberdade executando-se sempre as mesmas tarefas ? Definitivamente, esta estrela a quem diariamente meus olhos saúdam não é livre. É inconcebível e paradoxal a existência da liberdade na rotina. E sentado sobre a relva que cobria a montanha, o jovem surpreendeu-se com a profundidade das reflexões que seus questionamentos iam tomando.
Adiante, após apreciar a beleza de ver o sol se por bem além da infinitude do horizonte em um lugar onde céu e terra pareciam se fundir, o homem fitou com atenção uma águia que rasgava o céu em busca de abrigo. Como poderia haver símbolo maior de liberdade do que uma ave em pleno vôo ? Sim, um ser que sente como poucos a delícia de experimentar o ar se esbarrando contra sua própria face, de poder cruzar continentes  alçando vôo rumo aos destinos mais longínquos, de observar lá de cima a pequenez humana diante da natureza. Voar quando e onde quiser sem depender de algo ou alguém talvez seja a sensação máxima de liberdade que uma pessoa pode passar. Feliz por poder chegar a conclusões cada vez mais precisas o jovem continuava sua reflexão. Entretanto, há um enorme problema com esta águia. Acrescentou. Ela simplesmente não é livre ! E em seguida tentou explicar a si mesmo o porquê como que tentando convencer uma outra pessoa de seus argumentos. Esta águia não é livre pois não tem consciência sobre o que é a liberdade. Não é livre pois a liberdade da águia repousa nos olhos de quem a observa e não em seus próprios. Seria um enorme erro atribuir à ave algo que é incondicionalmente humano: a razão.   
Sentindo-se orgulhoso de si, o jovem mais uma vez levantou-se e esticou os braços em plena escuridão anunciada. “ Eu sou livre e tenho perfeita consciência disso.” Proclamou a si o homem em tom de notável redenção. Já era tarde, e parecia que sua missão ali estava cumprida. Olhando cuidadosamente o chão, o jovem procurou sua bicicleta em meio ao breu do campo. Enquanto andava rumo à direção da luz urbana reparou que algo estranho acontecera. Infelizmente o rapaz pisou em falso seu pé esquerdo enquanto ainda buscava apoio para segurar sua bicicleta. Sentado no chão e inconformado com a dor que o impedia de exercer qualquer esforço o jovem homem aos poucos aquietava-se. As luzes dos postes pareciam tão perto visto dali. Engraçado como por certas vezes a vida parece nos pregar uma peça. Adicionou o rapaz agora em tom de murmúrio. Vejo meus objetivos tão perto de mim, mas no momento simplesmente não posso alcança-los. De fato, de que adiante a liberdade se em certos momentos não a posso exercer ?
Esperando a inoportuna dor passar sentado ao chão e divagando agora não mais ao sol, mas as outras estrelas, o homem quase inconscientemente também percebeu que seu orgulho por viver o auge de sua vida também fora ferido. Infelizmente também chegará o momento em que o tempo sobrecarregará meus ombros. Também chegará o momento em que meus braços e pernas não obedecerão à velocidade de meus pensamentos. E sobretudo, inevitavelmente também chegará o momento em que meu corpo desgastado pelo tempo se curvará à morte. Serei eu livre nesses dias que estão por vir ?  Inquieto, o jovem percebeu que após seu questionamento seguiu-se um longo período de silêncio. Acredito que sim, a liberdade não é simplesmente o exercício do vigor físico em sua máxima intensidade. Liberdade é antes de tudo a capacidade pura e simples de poder fazer escolhas e as seguir sem qualquer constrangimento. Evidente! Exclamou o jovem agora ciente do quão importante foram suas últimas conclusões. A queda e o tornozelo machucado agora pareciam fazer parte de todo o processo de aprendizagem. Sim, acrescentou mais uma vez o rapaz. Liberdade é o exercício da capacidade de fazer escolhas em um ambiente restringido por limites internos e externos ao próprio homem.
Em meio à escuridão anunciada, o jovem homem chegou as suas últimas conclusões naquele dia. Procurou, em seguida, tornar seus questionamentos os mais claros possíveis. Limites internos e externos ao homem sempre existirão. Afinal, nossas escolhas são constantemente tolhidas por nossa própria moral e instintos básicos. Ademais, limites externos como a lei, cultura e dogmas religiosos são construções coletivas que se impõem sobre a vontade individual. Nenhum de nós foi livre para escolher nossa língua materna, se adequar às regras de convivência social ou seguir as leis, elas simplesmente nos foram impostas. A liberdade, por outro lado, se assenta na possibilidade de fazer escolhas justamente neste vácuo de restrições. Desse modo, quando velho ainda serei livre, minha liberdade como um fluido que se adequa à forma de um jarro se acomodará às minhas novas restrições. Enquanto tiver consciência de que tenho autonomia serei portanto, o senhor de minhas próprias decisões.  E fatigado pelo longo monólogo pude ver o jovem agora recuperado de sua dor partir em sua bicicleta.

Essa foi a pequena lição a qual tive a possibilidade de testemunhar. Sinceramente não sei se um dia terei a oportunidade de me encontrar com este inquieto jovem novamente. Por outro lado, prefiro pensar de um modo diferente. Quero acreditar que este jovem, que partiu para nunca mais, se faz presente em cada letra que escrevo. Quero acreditar que este jovem habita em mim como um conselheiro que constantemente me fornece informações. Quero acreditar que esta inquietação sobre a liberdade se refletiu nessa escrita através de minha curiosidade em criar personagem, enredo e ambiente fictícios somente para dar vazão a o que pretendia expressar. Sim, posso acreditar nas conclusões que fui capaz de concluir. No fundo, também quero acreditar que este astuto jovem também habita a consciência de muitas pessoas e as motiva a expressar o que as causa inquietação. Afinal, não é por meio disso que o mundo se move ?

domingo, 1 de dezembro de 2013

Ponto de equilíbrio

“De repente, não sou nem metade do homem que eu costumava ser, há uma sombra que paira sobre mim. Ah, o ontem veio subitamente”. ( Yesterday/ Paul McCartney ) Gostaria de poder dispor de palavras tão assertivas quanto às desta breve canção escrita há mais de meio século. De fato, cada vez mais me impressiono como, diante da enorme complexidade humana, muitas vezes recorremos a padrões tão parecidos de comportamento. Como se a angústia e o sofrimento fossem um código universalmente compreendido, como se dispuséssemos apenas dos mesmos mecanismos para soluciona-los. Acredito que no final das contas essa homogeneização ocorre porque vivemos em sociedade. Afinal, em nosso tempo, de que outro modo seria possível conduzir nossas vidas senão através da superação de desafios ?  
Na música Yesterday, o eu lírico se lamenta pela perda da pessoa amada e pelo sentimento de culpa diante da falta de informações.  Nesse sentido, não lhe resta outro conforto senão a contemplação da saudade e a espera de que o ontem possa ser novamente vivido. A mim, esta interpretação e a música em seu todo são um convite constante à nostalgia: esta vontade de querer reviver o que já não se pode mais, de  abandonarmos nossas expectativas sobre o futuro e lançarmos, ao invés, projeções apenas sobre nosso passado. Algo que, diante de determinados contextos, parece ser muito mais confortável que enfrentar o problema em si.
Saudade, uma palavra tão peculiar à nossa língua materna, mas ao mesmo tempo tão universal. Diante da efemeridade da vida e da singularidade do momento, acredito que pouco a pouco nos condicionamos a esperar também por esse ontem idealizado. Esse segundo especial capaz de invadir nossas vidas, como uma ser que nos surpreende adentrando em nosso caminho, e nos restaurar, mesmo que por um breve instante, aquele velho brilho apagado. Sim, eu Concordo: acreditar no ontem é preciso, afinal, não é de lá que viemos ?  não é deste constante suceder de momentos que somos produzidos ?  Apreciar o passado é tão importante quanto saber projetar o futuro. O presente, considero ser a arte de saber conciliar esta dualidade. 
A partir do momento que o homem deixa de projetar expectativas ele inconscientemente abdica de viver. Do mesmo modo, renegar o passado significa constantemente renegar a própria história e a aprendizagem dela derivada. Assim como qualquer arte, na vida também é indispensável que haja equilíbrio.  Ao pintor, é confiado a responsabilidade de saber dosar luz e sombra. Ao poeta, conteúdo e forma. Ao músico, melodia e letra. Bom, ao homem, é confiado a responsabilidade de saber relacionar-se com seus diferentes “Eu” no tempo. Desafios e razões para olharmos para trás sempre existirão, a grande arte é saber daí frequentemente tirarmos conclusões sólidas o bastante para sepultarmos os sofrimentos e dar à luz  novos projetos.

 E quando este dia de perfeito equilíbrio vier, tenho certeza que não será de repente. Aliás, Tenho certeza que não haverá um horizonte nublado nem mesmo a fração de um homem esperando pelo imponderável. Viva o presente ! Pois este dia é hoje .






sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A expressividade do Silêncio

Há momentos em que o melhor que podemos fazer é nos calar. Ainda me impressiono como por alguns instantes o silêncio pode ser tão revelador. Diante desta teimosa mania da vida, a qual insiste em constantemente contrariar nossos planos, o silêncio talvez se assente como o primeiro e melhor indicador de que infelizmente nos pegamos caminhando no sentido errado de nossa existência. Sou o melhor EU que poderia ser ? As possibilidades de caminhos são infinitas, afinal, como este ser falível, imperfeito e sujeito a tantas tentações pode se confortar de que está seguindo o caminho exato ? Como poderia saber que as risadas que lanço ou os sentimentos que desfruto hoje são, de fato, os mais intensos ?  Tenho para mim que os dilemas da vida são tão infinitamente complexos que uma pessoa que, em sã consciência, chama para si a responsabilidade de responde-los  assume invariavelmente o fardo do sofrimento eterno.
Vejo o silêncio como a digestão do inconformismo. A primeira atitude depois de mais uma porrada da vida. O silêncio pode e diz muito. Quem pode saber quantas palavras diferentes, quantos gestos absurdos, quantas entonações variáveis um mesmo silêncio pode abarcar ? O silêncio é uma misteriosa linguagem que espera ansiosamente para ser decifrada. Bom seria se aprendêssemos a analisa-lo cada vez mais. 
Nem todo grito é dor, nem todo choro é sofrimento, nem todo silêncio é paz. Há um vácuo incomensurável entre cada extremo. O silêncio, a dor e o choro são tudo e nada ao mesmo tempo, são o prazer e o ódio, em síntese, são meios que te levam a caminhos diametralmente opostos.
Contemplo a escuridão da madrugada que, pela janela, adentra meu quarto. Desse modo, sou sorrateiramente abraçado por este silêncio novo que se produz ao meu redor. Quais de minhas questões poderão ser respondidas ?  Uma fresta de imediatismo de meu ser insiste em perguntar. O que sei é que, definitivamente, não sou o melhor EU que poderia ser. E digo isso por uma simples razão. Se assim eu fosse, não me encontraria com esta inquietação e arrependimento que se fazem presente neste silêncio que me abraça agora. Sinceramente, ainda não sei bem ao certo o que sou. Talvez cada um de nós também seja o tudo e o nada ao mesmo tempo. O ser que constantemente se destrói e se refaz. Sobretudo, talvez também sejamos reflexo deste silêncio que a todo momento nos abraça e nos conforta. Sim, bom mesmo seria se aprendêssemos a analisar o silêncio cada vez mais. Quem sabe deste modo, poderíamos encontrar melhores repostas para nossos dilemas.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Nenhuma lágrima foi em vão

O que é isso que me acomete ?
Quando em mim pairam a dor e o sofrimento.
Que gotas são essas, que de meus olhos transbordam ?
Quando me sinto um tanto menor por dentro.

Quantos incontáveis pensamentos tiveram que se produzir
Quantos infinitos segundos tiveram que se passar
Até que as feridas abertas por aquelas lágrimas
Pudessem finalmente se cicatrizar

Lágrimas são o sangramento da alma
E em cada uma das gotas derramadas
Há incontáveis histórias que esperam ser ditas
Há incontáveis lembranças que esperam ser superadas

felizmente, fui descobrir que em cada lágrima de sofrimento
aprendemos a nos redimir de nossos medos
cada lágrima traz seu próprio alento
cada lágrima  nos ensina a aprender com nossos erros

Talvez eu saiba o que é isso que me acomete
quando eu sinto em minha essência toda essa dor
lágrimas são gotas de sabedoria
são pedaços que enriquecem o seu autor
definitivamente, nenhuma gota foi inútil
quando nela se aprende a admirar todo seu esplendor 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Toda flor tem seu valor

Infelizmente vivemos em uma sociedade extremamente pragmática. Pragmática ao ponto de que algo ou alguém só tem valor na medida em que ainda mostra-se útil. Pragmática ao ponto de que muitas vezes a análise da beleza precede a da essência do ser.  Sinceramente, prefiro acreditar que isso é apenas mais um de meus incontáveis devaneios, mas não.  A negação da realidade não a muda não tampouco contribui para o seu fim. Devo seguir em frente apesar das insatisfações e frustrações que surgem. No final das contas: não é exatamente sobre isso de que se trata a vida ?
Há certos fatos na vida que realmente são muito curiosos. É curioso como o tempo tem essa incrível capacidade de suceder a si mesmo e como esta sucessão contínua movimenta toda a máquina da vida.  Aprendemos desde pequenos na escola que todos os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Puxa ! Que visão mais enfadonha, limitada e mecanicista. Por sinal, quando de fato realmente aprendemos que devemos ser felizes e proporcionar felicidade aos demais ?  Quando de fato aprendemos que devemos dar valor aos pequenos detalhes de nossa existência ?  Talvez seja desde então que começamos a nos tornar tão pragmáticos. Em uma sociedade onde tempo é dinheiro, creio que a profissão de poeta nunca foi tão desprezada, se é que ainda é possível viver disso. Afinal, quantos ainda estariam dispostos a abdicar parte de seu tempo para apreciar palavras ? Nada além disso ! Creio que a vida não se resume à razão, é indispensável que também saibamos desenvolver outros aspectos, como o emocional e o espiritual.
O tempo sucede o tempo. Engraçado como esta pequena lógica é capaz de englobar a história de toda existência minha, sua e do restante da humanidade.  E diante disto, o homem ,como qualquer outro ser, sofre com os efeitos perversos deste fenômeno: o envelhecimento.  O que mais me intriga em todo este processo é saber como somos observados de maneiras tão diferentes em nossas vidas. Sim, veja bem. Ao nascer somos vistos como um grande ser em potencial, somos fruto de uma longa espera e, portanto, bajulados. À meia idade, por outro lado, somos praticamente tudo o que poderíamos vir a ser, exercitamos nossas escolhas e tomamos nossos rumos. Adiante, quando já velhos, somos em grande parte produto do que fomos e característica das escolhas que tomamos. Neste aspecto,  não é difícil nos depararmos com quem entenda a velhice como sinônimo de invalidez. Não é difícil perceber como este tipo de raciocínio leva as mais grosseiras distorções, a tal ponto que se possa por alguém em um asilo como se põe um brinquedo quebrado em um quarto de despejo.

Certa vez enquanto esperava o ônibus em uma parada, reparei a queda de uma flor ao chão ocasionada pela força do vento. Notei atentamente a indiferença àquela inocente flor de todos os que ali também se encontravam. Infelizmente, nenhuma daquelas pequenas pétalas murchas seria algum dia admirada, nenhuma daquelas pétalas seria motivo para arrancar sorrisos de contemplações ou mesmo um olhar de admiração. Pobre flor, quanta infelicidade deve ser para a mesma descobrir que aquilo que outrora fora vistoso e belo agora reduz-se a mais uma parte do lixo que se acumula na rua, alheio a qualquer sentimento de compaixão.
Tenho para mim que o mais importante é sabermos encontrar nossa utilidade, não para os outros, mas sim para nós mesmos. Nada melhor do que aquela sensação de dever cumprido ou satisfação pessoal que nos motiva a continuar nos desafiando dia após dia. Neste sentido, considero que quando chegamos a estas conclusões finalmente já teremos aprendido que na vida o mais importante é sabermos dar valor a cada ínfimo detalhe que cerca nossa existência, pois em cada fragmento destes detalhes repousa uma parcela da felicidade.
Antes de entrar naquele ônibus, opto por fazer algo diferente. Decido coletar aquela flor desfigurada e maltratada pelo tempo e guarda-la comigo. Sim, definitivamente fiz a escolha certa. Tenho certeza que independentemente do que aconteça, aquela flor para mim sempre preservará sua utilidade. Penso em até mesmo guarda-la cuidadosamente para que um dia quando meus ombros se curvarem ao peso do tempo aquelas pétalas também sejam testemunhas de que a beleza, de fato, não precede a essência. Sim, definitivamente fiz a escolha certa. Afinal de contas, toda flor tem seu valor. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Perdi você

Perdi você !
não para alguém,
 mas sim para algo,
Perdi você para o tempo e para o espaço.
Perdi você !
Não por ter cometido erros
Perdi você pelas minhas incapacidades e medos

Sob a solidão da luz do poste
Sua imagem invadia minha mente
Todo homem é limitado e falível
Afinal, o que posso eu fazer ?
Questionava-me incessantemente

Percorreria distâncias incontáveis
Apenas para desfrutar da companhia dos teus sorrisos
Entretanto, padeço dos meus defeitos
Por desconhecer os caminhos mais precisos.

E sendo a Lua testemunha de minhas angústias
Tratei de firmar com esta um modesto pacto.
No intuito de por fim as minhas ilusões
Quis Concretizar, por tão singelo ato
O brilho lunar como intérprete de minhas emoções.

Doravante, Sempre que quiser me encontrar
Olhe atentamente para lua
E verás ali o brilho refletido dos meus olhos
ansiosamente buscando lhe comunicar
todo afeto e consideração
que nem mesmo minhas palavras puderam expressar

Ainda assim, sinto-me sufocado
Não sei bem ao certo se me fiz compreendido
Talvez eu esteja abusando da bondade deste satélite
Talvez mesmo esteja prolongando um fim já decidido

Considero seriamente o fato de não mais lhe perturbar
Não mais levantar minhas soluções ou defeitos.
Penso em cada vez mais abrir espaço
Para que tu possas na lua definitivamente encontrar
o brilho e o amor provenientes de olhos a ti mais afeitos.


sábado, 14 de setembro de 2013

Em minha vida

“There are places I remember all my life. Though some have changed, some forever, not for better. Some have gone and some remain.”  ( In my Life, Beatles ) De fato, devo admitir que sempre tive uma relação bem incomum com o meu passado, talvez seja por isso que atualmente eu tenha uma visão tão saudosista do que já aconteceu. Frequentemente me pego pensando em uma pergunta um tanto o quanto inusitada: E se eu pudesse promover o reencontro do meu Eu de agora com o Eu de 5 ou 10 anos atrás ? E a partir deste questionamento, outras inúmeras perguntas parecem aflorar instantaneamente em minha cabeça. Como seria ?  O que aconteceria ? Infelizmente, tenho que assumir que minhas curiosidades e reflexões parecem me conduzir a um número de perguntas infinitamente maior que minha capacidade em responde-las.
Ocasionalmente, é comum depararmos com momentos nos quais temos a total certeza que lembraremos pelo resto de nossas vidas. A formatura no ensino médio, faculdade, o nascimento ou morte de alguém, primeiro carro etc. Eu particularmente já tive a oportunidade de vivenciar algumas dessas situações, e o que tenho a dizer sobre isso é que certamente não fui o mesmo Eu em todas as ocasiões. Há algo de muito complexo em nossas vidas, somos produtos de nossos passados, mas definitivamente não somos a soma de tudo o que vivemos, creio que seja porque o ser humano tem essa incrível capacidade de se recriar e reinventar a cada instante.
Se pudesse voltar ao passado, mesmo que ao menos uma vez, seria eternamente grato por reviver a beleza de momentos únicos e especiais. Reviver os tempos de infância, as brincadeiras na rua, todas as mínimas etapas que precediam minha rotina. Seria eternamente grato por poder reviver a ansiedade e a expectativa do primeiro dia de aula, as lições de sala e sobretudo, seria eternamente grato por poder desfrutar novamente das amizades já esquecidas. Por sinal, é impressionante como muitas vezes na vida conhecemos pessoas, formamos vínculos e por algumas razões somos obrigados a desata-los para sempre.
Se pudesse voltar ao passado me encantaria em ouvir de meu antigo Eu o testemunho do que já fui e as expectativas que eu tinha. Se pudesse voltar creio que aprenderia muito mais do que ensinaria. Se pudesse certamente ficaria extasiado pela oportunidade. Se(...).
Ouço as músicas que escutava, leio os textos que escrevi, vejo os lugares pelo qual passei e em todas as ocasiões embora não consiga me sentir totalmente no passado posso sentir o sabor da nostalgia e o conforto de perceber os bons momentos se reavivarem e tomarem cor e minha memória.

 Sim, começo agora a me conformar com a ideia de que talvez, de fato, consiga promover este reencontro de meus diferentes “Eu” e responder as incessantes perguntas que brotam em minha cabeça, pois se como diz o ditado “O passado mais presente é aquele que insiste em não sair de nossa mente” então posso com certeza afirmar que vivo o passado e o presente a todo o momento. Talvez mesmo eu seja um homem do passado vivendo no presente. De qualquer modo, o mais importante para mim é ter sempre a ciência que cada Eu que já fui foi igualmente importante e por isso nunca deverão ser esquecidos. 

sábado, 10 de agosto de 2013

O sabor da descoberta

Sempre gostei de me desafiar a escrever sobre algo o qual tinha pouco conhecimento, sempre gostei de sentir o sabor de fazer a própria descoberta. No fundo no fundo, talvez seja essa a grande razão pela qual decidi dedicar parte do meu tempo escrevendo sobre o que me vem à mente, sobre o que me causa inquietação. Acredito que no final das contas, sou mais um engenheiro de palavras. Sim, estudo, avalio e construo o prédio de emoções que originalmente desenhei. Para que servirá este prédio ainda não sei, apenas sei que um dia quando precisar terei à disposição um lugar dentro do qual poderei buscar abrigo. Do mesmo modo, observo na vida um padrão semelhante. Como diria a canção “É preciso saber viver...”. Ora, e como é possível saber viver sem ser um exímio construtor de felicidades ?   
Devo admitir que inicialmente mostrei-me relutante a questionar-me sobre a  felicidade, pois esta, juntamente com o amor certamente são os temas mais batidos na literatura, novela, filme, música etc. De todo modo, é impressionante como a civilização humana desenvolveu uma espécie de obsessão ou culto desproporcional destes sentimentos, sobretudo do primeiro. Como se a felicidade fosse algo inacessível ou alcançável somente nos últimos meses ou anos de nossas vidas, como se a felicidade, uma vez atingida, fosse algo constante e inquebrantável. Sinceramente, considero esse tipo de pensamento completamente irracional.
Era um dia de abril ou maio, ainda não sei ao certo, o que sei é que havia terminando minha sequência de exercícios na academia e encontrava-me pronto para retornar a minha casa. Lembro-me perfeitamente de caminhar por entre os quarteirões  observando aquela paisagem absurdamente normal de senhoras de idade tricotando em frente a uma espécie de alfaiataria , crianças brincando e comerciantes conduzindo seus pequenos estabelecimentos. Como de costume, enquanto caminhava, internamente também nadava nas correntezas de reflexões produzidas pelo meu próprio pensamento. A sensação de extremo calor e de ardência na pele produzida por aquele dia de incomparável céu azul e brilho intenso incentivava-me ainda mais a aumentar a frequência dos meus passos. Subitamente, ao virar da esquina, desfrutei do alívio ainda que passageiro. Um bar estrategicamente posicionado abaixo da copa de uma grande árvore oferecia-me a sombra perfeita. Confesso que tive a tentação de parar, e ali  permanecer alguns longos minutos, entretanto forcei-me a continuar seguindo em frente mesmo que cada centímetro quadrado daquela sombra insistisse em gritar meu nome. Apesar de tudo, dentre todos os motivos que poderia descrever para voltar atrás, atender ao chamado daquela sombra certamente figuraria entre os últimos de minha lista.
 Aquele bar tinha algo de estranho e ao mesmo tempo muito normal. Lembro-me de observar um grupo de conhecidos sentados à mesa conversando sobre assuntos aparentemente irrelevantes enquanto riam e descontraiam. Tudo isso enquanto bebiam suas cervejas e ouviam a música oriunda do carro estacionado ao lado que dizia “everything is gonna be alright.” Como se não bastasse, esta rodinha de conversa também aproveitava da sombra produzida por aquela árvore. O contraste entre mim e aquele grupo de amigos certamente destacava aquela penumbra, bem como o vento que parecia massagear a face somente de quem ali estava , como que oferecendo um serviço gratuito do ambiente. Invejei aquele lugar, e enquanto caminhava olhei para trás diversas vezes. Certamente a felicidade estava presente naquele bar ainda que os que ali se encontravam não a percebessem. Muito provavelmente estaria escondida ou camuflada perto daquela sombra.  
Tenho para mim que a felicidade é tão fluída quanto tangível, diante disto, tudo o que temos que desenvolver é a capacidade para nos mostrarmos mais sensível a perceber este estado de satisfação. Felicidade plena não existe nem nunca existirá, pois sempre haverá pontos em nossa vida do qual descordaremos. De fato, é impressionante como nós humanos temos a incrível capacidade de sobrevalorizar erros e imperfeições e minimizar os aspectos positivos que circundam nossas vidas. Talvez seja por isso que infelizmente só aprendemos a dar valor a algo depois que  perdemos. Bom mesmo seria se soubéssemos apreciar a simplicidade dos detalhes e o sabor de cada descoberta. Bom mesmo seria se soubéssemos que vive-se a felicidade intensa mesmo que apenas durante alguns segundos de uma profunda gargalhada, da contemplação de um por do sol ou do desfrute da amizade. Como se naqueles míseros instantes nada importasse a não ser os motivos que o levaram ao êxtase. Bom mesmo seria se soubéssemos construir felicidades com a mesma habilidade que aprendemos a admira-la. 


quinta-feira, 25 de julho de 2013

O poeta e seu poema

Sonhei que me querias
e assim mesmo me buscavas.
Sonhei que eu era fruto de tuas percepções oníricas,
que era tudo que precisavas.
  
Infelizmente, deixei-me empolgar por este sentimento ilusório.
De certa forma , me vejo como culpado,
por querer acreditar no que não percebia.
Assim, atribuí apego em demasia,
ao passo que em outras áreas da minha vida,
me vi totalmente silenciado.
E com grande pesar foi que eu percebi
que embora muito tentasse,
nunca seria teu sonho buscado.

Silenciei-me e reduzi-me a mim mesmo.
Contentei-me com meu descontentamento
E exatamente assim, apenas observei
minhas esperanças se dissolverem em lamento

Desfrutei da solidão como quem desfruta do amor
Foi quando notei que podia nas palavras encontrar amparo
e assim me pus a escrever da dor
com devaneios e melancolia eu pintei meu auto-retrato. 

Neste instante eu percebi que o poeta nunca está sozinho.
As palavras e as emoções são no momento da tristeza
suas melhores e talvez únicas parceiras.
Tal qual uma foto registra o aspecto visual,
seus poemas tratam de cuidar do valor sentimental.

Pronto, findo aqui este poema.
Tratei de lapidar minha dor
buscando algo diferente.
É bem verdade, que ao poeta
Cada verso criado destaca-se de si
Constituindo sua própria essência.

Sinceramente, ainda não sei o que fazer
Com esta nova parte de mim que acabei de criar.
Quem sabe inspirado pela nobreza dos sussurros de humildade
Que invadem minha mente,
eu decida criar forças para lhe entregar,
pois em todo esse processo,
acabei aprendendo com minhas novas companheiras
algo bem simples:
Amar é buscar se superar. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A linguagem da alma

Se queres comunicar com a alma, se queres acessar o mais profundo de teu inconsciente,
se queres lembrar com carinho ou cólera do fato marcante, do presente concretizado,
ou simplesmente do quão complexo são os sentimentos que a vida pode nos despertar,
utilize a arte e verás como é simples a comunicação,
pois se as palavras descrevem a realidade
somente a arte atinge a emoção  
  
Uma música ouvida e uma lágrima derramada,
uma antiga foto vista e as esperanças nela aprisionada.
E eu me questiono ainda:
Teria o mesmo efeito se mil palavras fossem lançadas ?
Acredito que não.
Palavras individualmente tomadas são meras junções de letras.
Já a arte, em sua essência, é o caminho mais curto para a alma

Inevitavelmente, todos caminhamos para o final de nossa existência.
Chegará um dia em que tudo o que o que nos restará será recordações,
recordações do que fomos e do que poderíamos ser
do que fizemos e do que deixamos a desejar.
Sinceramente, não quero me apequenar.
Quando meus ombros se curvarem ao peso do tempo,
 quero que nesses dias frios e sem cor que hão de chegar,
que eu sinta orgulho do tempo vivido e da beleza de cada momento.

E quando nada restar
espero que em minha alma se encontrem registradas a doçura e a leveza do que vi no mundo
pois tenho certeza de que quando as lembranças falharem
a arte me proporcionará reviver os sentimentos encapsulados em cada segundo.  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Se as pedras falassem

Se as pedras falassem seriam testemunhas da felicidade concretizada,
da beleza do momento ainda que efêmera.
Ah, como gostaria de ter a capacidade de prolongar este orgasmo mental,
de parar os intervalos entre cada segundo e neles viver indefinidamente meu estado de  êxtase.

Se as pedras falassem me dariam um ótimo testemunho,
já que não posso confiar totalmente em minha memória limitada e carregada de subjetividade.
Busquei ao redor de mim, alguém que também tivesse visto o que eu vi,
alguém que também tivesse sentido o que eu senti.
Entretanto não encontrei nada além de pequenas pedras jogadas no asfalto.

É triste querer reviver o que nem ao menos sabemos o que experimentamos .
Infelizmente não há qualquer registro escrito ou filmado durante aquele fatídico entardecer.
Não há qualquer objeto que me possa remeter diretamente a o que aconteceu naquela tarde.
Triste de mim, pois estarei sempre condenado a nunca mais ter a real dimensão do ocorrido.

 Entretanto, há uma esperança, se as pedras falarem poderei  relaxar.
Se aquelas pequenas pedras falarem o que viram sei que confiarei completamente.
Não há razão alguma para mentiras, sei que diriam apenas verdades e o melhor de tudo:
me dariam uma visão isenta do fato, descarregada de qualquer forma de pessoalidade.

 Sim, caro leitor, apenas preste atenção.
Como poderia ousar duvidar de seres que habitam a sarjeta ?
Que reduzem-se a pequenos e insignificantes detalhes espalhados na rua ?
Que não atrapalham e passam desapercebidos em qualquer lugar ?

Queria eu ter a humildade de uma pedra,
quem sabe assim, eu poderia me deixar contagiar.
E com os meus tormentos, de uma forma diferente,  me relacionar.
Quer saber ?  Dane-se aquela tarde !
Daqui para frente vou construir novas dela, 
e vou ter sempre a certeza que as lembranças são como pedras
 não podem nem devem querer se superestimar. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Something is on the way


Costumo ver a depressão como uma prisão mental, um cárcere psicológico dentro do qual nossas esperanças são sumariamente sequestradas e privadas da liberdade. Para além disso, interpreto a depressão como um marginal que adentra nossas mentes e maldosamente perverte toda a lógica do nosso sistema prisional, libertando delinquentes como a angústia e a melancolia e retendo jovens de boa fé como os nossos sonhos. Muito embora sejamos senhores de nossas próprias decisões, diante desta tristeza profunda, parece que jogamos contra nós mesmos, como se uma parte de nós precisasse ser mascarada e punida por simplesmente acreditar na mudança ou como se houvesse uma ditadura mental dentro da qual não fosse permitida contestação.
Tal qual uma criança abandonada que reclama por consolo numa madrugada fria de inverno, assim também a depressão nos faz remeter diretamente à solidão, ao saudosismo e à hipótese de que talvez nunca encontraremos amparo de uma mão a nos aquecer e nos retirar da penúria na qual nos encontramos. Nesse sentido, devo admitir que tal sentimento nos faz apegarmos mais fortemente ao passado, a o que costumávamos fazer e às lembranças de que já fomos melhores, como se renegássemos viver o presente e projetar o futuro, como se aquele cantinho aquecido amontoado de velhas boas recordações fosse o bastante para saciar-nos e manter-nos confortáveis pelo resto de nossa existência. Ledo engando, a efemeridade da vida vem constantemente nos fazer lembrar que não é possível sobreviver alimentando-se apenas de passado. É preciso saber degustar boas doses do presente todos os dias. 
E diante desta enorme dicotomia entre permanecer no conforto ou ousar rumo às incertezas da vida, surgem inúmeros questionamentos e inquietações. “Você não precisa saber como vai morrer, apenas comece a viver.” Esta frase Poderia parecer um clichê vinda de alguém que ainda não experimentou grandes dificuldades na vida, ou mesmo de mim, dita apenas para dar ênfase ao meu argumento. E seu eu lhe dissesse que foi dita por um jovem ciente de que morreria três meses depois ? Sim, Zach Sobiech, um americano de 17 anos, diagnosticado com uma doença rara nos ossos desde os 14¹. Longe de mim querer defender a ideia de que se até esse rapaz conseguiu suportar de forma exitosa o fardo da morte iminente então todos os demais casos de depressão são injustificáveis. De modo algum poderia mensurar ou mesmo hierarquizar as causas deste transtorno, pois somente quem sofre tem a exata medida deste valor. Prefiro, por outro lado, ver esta experiência de um modo diferente. Não se trata do quão forte é a dor do impacto, mas sim do quão forte é a sua vontade em supera-la.
Impressionante como certas vezes é possível ter a sensação de que poucos dias valeram mais a pena do que uma eternidade inteira. O Tempo, além de relativo é extremamente curto, e todos nós sabemos disso. Neste sentido, optar por viver no passado e se esquecer do agora que se materializa a todo o momento é com certeza a forma menos racional de superar este estado aprofundado de amargura. Mas afinal de contas meu caro, quem disse que a vida é racional ? E é justamente desta não racionalidade que trato agora, seria uma enorme tolice minha se encerrasse este texto ao estilo daqueles velhos manuais de auto ajuda, como se uma pessoa deprimida não soubesse que superar a dor é o melhor para ela. Não há receita de bolo, não há remédio e palavras mágicas, só o que há é uma realidade para ser enfrentada. Muito mais uma realidade interna, muito mais uma realidade psicológica, muito mais uma realidade que nos imbui a assenhorarmos de nossas mentes libertando desolados reféns, pobres detentos que esperam ansiosamente a oportunidade para exercer em fim suas potencialidades.


domingo, 26 de maio de 2013

Poeira no vento

“I close my eyes only for a moment and the moment has gone.” ( Dust in the Wind/ Kansas ) De fato, devo admitir que para mim é difícil aceitar que o homem perante o tempo é totalmente insignificante. Seria completamente descabido da minha parte raciocinar que diante de um espaço preenchido por mais de 7 bilhões de pessoas, espalhadas por cinco continentes e considerando os mais de 200 mil anos de história do hommo sapiens na terra, justamente a minha pessoa tivesse uma percepção especial e extraordinária da vida.  A inevitabilidade da morte congrega todos nós em um denominador comum. Neste aspecto, apenas vivemos para escrever nossa biografia e deixar nosso livro na estante da história. Entretanto, embora sejamos pequenos grãos de areia espalhados na imensidão da praia, isso não impede que pequenas unidades possam se destacar e deixar marcas eternas. A genialidade humana existe e sempre existirá e o legado de um Darwin, Isaac Newton ou Albert Einstein sempre será lembrado. Há porém, certas pessoas que, muito embora não tenham formulado nenhuma teoria revolucionário, têm a incrível capacidade de nos causar um profundo impacto, e a vontade de reviver a beleza deste impacto deixado eu costumo chamar de uma forma bem simples: saudade.
 Viajar para a cidade natal de meus pais sempre me trazia à mente a sensação de que eu estava voltando no tempo. Quando se é criança cada segundo não aproveitado fazendo algo prazeroso parece uma eternidade, e por isso, deslocar-me para uma pequena cidade do interior baiano, mais precisamente para a roça, parecia-me uma situação extremamente desconfortável.
Lembro-me dos passeios a cavalo, do almoço cozinhado no fogão de barro, das brincadeiras com as demais crianças da roça, e sobretudo, das simples conversas com meu avô e tios, conversas estas, diante do horizonte verde seco, castigo pelo clima árido e sol escaldante, do qual  participava ou simplesmente ouvia.  A realidade é que o tempo parece mostrar-se em sua forma mais nua quando se vive neste tipo de ambiente, como se cada atividade feita ali fosse igualmente importante e marcante. Desta forma, não é surpresa que mesmo para uma criança, como era, a distância entre o mundo urbano e rural era separada por uma verdadeira viagem no tempo.
Ele era um senhor na casa dos seus 70 e poucos anos, porém de muita disposição. Aliás, disposição e humildade foram sempre uma constante em sua vida. Não, prezado leitor, não quero fazer suspense. Tal pessoa, tratava-se do meu avô, um homem com quem tive a oportunidade de compartilhar alguns bons momentos.  Bom, o que posso dizer para além desta minha série de repentinos flashes de memória que insistem em adentrar minha cabeça ? Enfim, talvez possa tentar fazer algo.
Mesmo apesar da pouca idade na época, lembro-me de uma singela festa surpresa organizada por minha mãe a meu avô, e da reação de surpresa deste, quando ao acender das luzes, uma dezena de pessoa ou talvez mais, instantaneamente se mostraram visíveis ao seu redor batendo palmas. Lembro também de uma outra surpresa, esta porém, nem tanto oportuna. Em breves palavras, tratava-se de uma enchente na casa onde morávamos, em decorrência da chuva, e de uma forte correria para salvar alguns móveis. Ainda criança, lembro de vê-lo ordenhar algumas pobres vaquinhas logo pela manhã e mais recentemente, de vê-lo lutando contra o câncer.
Ora, ora, ora, o que é a vida senão uma sucessão de momentos tristes e felizes intercalados ? Acho que no fundo isso acontece para que constantemente nos lembremos de nossa condição de seres imperfeitos e insignificantes frente ao tempo. Ainda não me conformo com o fato de ver a vida de uma pessoa muito bem vivida ser resumida em algumas poucas linhas, como se todo um conjunto de dúvidas, emoções, tristezas e coincidências pudessem ser magicamente descritos e explicados por apenas palavras, nada além disso.  Eu poderia dizer também que meu avô tinha senso de humor, era muito respeitado na região onde vivia e que era canhoto, aliás, razão pela qual também sou , já que desconheço qualquer outro registro de canhotos na minha família. Nada disso preencheria a totalidade da personalidade de alguém. Acredito que isso ocorre porque eu uso palavras para falar de emoções, talvez, algum dia eu consiga usar emoções para falar de emoções, o que por sinal, me parece ser muito mais lógico.

E agora, José ? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.  A morte veio como soco no estômago. Nunca me esquecerei do dia em que vi minha mãe chorar ao pegar uma camisa de seu pai por engano, uma camisa esquecida aqui enquanto viera fazer o tratamento. Agora, não existia mais um corpo por dentro daquela camisa, mas apenas ar. Não sabia o que fazer direito, desajeitado, apenas calei-me e a vi chorar em minha frente sem fazer nada. Acredito, que pela primeira vez, me vi acorrentado pelo tempo, pela minha incapacidade em fazer alguém retornar à vida ou em confortar uma pessoa. Infelizmente, aquele homem nunca mais poderia participar de mais uma festa surpresa novamente, com bolos, salgados, pessoas aplaudindo e uma luz acesa. Eu, mesmo que me esforçasse muito, encontrava-me completamente impotente diante da situação, afinal de contas, era e continuo sendo mais uma poeira no vento perdido na infinitude do espaço. 

sábado, 27 de abril de 2013

Meu mundo e nada mais


              

“Quando eu fui ferido, vi tudo mudar das verdades que eu sabia. Só sobraram restos que eu não esqueci, toda aquela paz que eu tinha.” Impressionante como alguns compositores têm a incrível capacidade de captar a essência do momento e decodificar um sentimento em versos e poesias. “Meu mundo e nada mais.” Sinceramente, mesmo que tentasse muito, não poderia encontrar um título mais oportuno para dar nome a esta bela canção.  Aprecio atentamente a cada palavra proferida pela música como que buscando saborear uma requintada especiaria. E diante deste exercício da alma, sinto-me conduzido a uma profunda introspecção psicológica, para algum lugar onde, não estranhamente, há apenas eu, o meu mundo e nada mais. Um lugar ao mesmo tempo agradável e inóspito, acolhedor e sombrio, enfim, um lugar onde reina o vazio da solidão e a subjetividade do momento.
Certa vez, enquanto fazia algumas pesquisas para um trabalho da faculdade, me deparei com a obra de um filósofo alemão chamado Martin Heidegger, o qual afirmava em seu livro Ser e Tempo ( 1927) que " cada um de nós nasceu só, vive só e vai morrer só.” Posto de outra forma, a visão de Heidegger repousa na premissa de que o nascimento relega o ser humano à condição de busca de sua própria sorte. A solidão passa, diante desta perspectiva, a se tornar um fato imutável, determinista e constante na vida de todos nós. Muito embora, parte de mim sinta-se bastante confortável em acreditar nesta visão, considero inconcebível a proposição de que o espaço de tempo compreendido entre nosso nascimento e nossa morte constitui-se unicamente de uma vivência solitária cercada por pessoas que igualmente desfrutem deste estado sem contudo, compartilha-lo com os demais.
O homem é um ser social, e como tal considero que é em sociedade que encontra os meios para exercer suas potencialidades. Por outro lado, concordo com o exposto pelo filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre, o qual tem em sua frase mais conhecida a expressão máxima de sua obra.  “ O Homem é condenado a ser livre.” Tal afirmação implica em dizer que ao homem é facultado tudo menos a capacidade de se isentar da possibilidade de escolher. Ora, fazemos escolhas a todos os momentos e nas mais diversas situações. Desde coisas simples às mais complexas sempre nos guiamos por nossas crenças e optamos por algo. Você até mesmo pode se perguntar: Bom, eu posso decidir não escolher meu curso da faculdade, por exemplo. Nesse caso, eu te diria: a sua não escolha também foi uma escolha. Simples assim, não há como fugir desta realidade.
Penso que devemos sempre buscar nos adaptar ao fato que vivemos em sociedade e que constantemente fazemos escolhas.  À mim, isto é tão real quanto o sol que desponta todos os santos dias no fundo do horizonte e que humildemente retira-se para iluminar um novo dia.  Entretanto, quando a realidade mostra-se sem este brilho solar, quando, diante das pressões do cotidiano, vivemos passivamente nossas vidas, quando sentimos o tempo escapar de nós, tal qual a areia que insiste em fugir de nossa mão escorrendo por entre os dedos, quando sentimos feridos por dentro, sem nem ao menos saber precisar o porquê, bom, nesse caso meu amigo, diria que inevitavelmente você deve seguir uma viagem. Uma viagem à terra de “ Meu mundo e nada mais” um lugar, onde, por alguns instantes, você poderá embriagar-se pela beleza do momento e contemplar a paisagem que lhe é exposta. Um lugar, o qual à primeira vista, o cenário inóspito pode lhe convidar a reviver tristezas, mas que com a dosagem certa de confiança e sabedoria pode subitamente transformar-se no contrário.
Entendo que o desfrute da solidão assim como qualquer outra atividade ou experiência deve ser algo bem dosado e responsável. Digo “desfrute” porque de fato penso que devemos nos comprazer na solidão. Não me entenda mal, caro leitor, não faço apologia aqui ao individualismo e ao egoísmo, mas sim a uma oportunidade de auto reflexão e auto conhecimento. E justamente neste sentido, é impressionante como a admiração solitária do por do sol ou do entardecer repleto de neblina tem esse poder de nos conduzir a uma introspecção, a qual tanto pode ser agradável ou não, só depende do modo como a encaramos .  Em outras palavras, eu defenderia que a solidão também deve ser vista como uma escolha, Sim uma escolha a viajar à terra de “Meu mundo e nada mais.” Um lugar ao mesmo tempo agradável e inóspito, acolhedor e sombrio, enfim, um lugar onde reina o vazio da solidão e a subjetividade do momento. 


Nesse momento, também quero te convidar, caro leitor, a fazer esta viagem. Basta apertar o "play" e sentir-se à vontade para conduzir suas malas repletas de lembranças, nostalgias, arrependimentos e dores consigo mesmo, a um lugar onde possa confortavelmente repousa-las e, mesmo que por alguns instantes, sentir-se livre do peso de ter que carrega-las. !   








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