Deixe-me às escuras.
Tranque-me em um quarto e simplesmente
afasta-te de mim.
Deixe-me afundar em meus
fracassos, inseguranças e medos.
Deixe-me apreciar o gosto
amargo do erro.
Quero sentar-me defronte à
janela
Quero sentir a escuridão
abraçar-me por inteiro
Faço questão de contemplar a
beleza que ainda não vi
E ter a certeza que fiz do
arrependimento meu melhor companheiro.
Quero sentir o calor do meu
próprio corpo se irradiando pelo ambiente
E observar que faço
parte da escuridão assim como a escuridão faz parte de mim
Deixe-me dialogar com a
solidão e faze-la minha confidente
Preciso desfrutar do tempo,
permitindo-o se desfrutar de mim.
Quero sentir o peso das
velhas lembranças esculpindo minh’alma
Preciso me deixar ser
conduzido pelos sentimentos mais desprezíveis.
A ti, apenas peço que entendas
minha necessidade de me sentir assim.
Já que é ilógico tentar
explicar-lhe o que sinto,
não vejo outro modo a não
ser te pedir compreensão.
Por isso, reafirmo:
Afasta-te de mim !
Deixe-me em um canto
qualquer onde haja apenas solidão
Deixe-me afogar em minhas
inseguranças.
Preciso sentir a textura, o sabor
e o aroma da escuridão que me cerca.
Tenho obsessão em explorar
meu desconhecido
E sentir o que não foi
sentido
E experimentar o que ainda
não faz sentido.
Quero olhar pela janela do
quarto onde tu me trancaste
e observar o mundo lá fora.
Quero me deixar ser assaltado
pela sutileza das conclusões que me invadem.
Quero tornar a escuridão
cúmplice das observações que se formam em minha mente
E assim desenvolver a
capacidade de perceber o imperceptível
De falar com fluência e
detalhadamente do indescritível
Afinal, não haveria luz
se não fosse a escuridão
Não haveria som se não fosse
o silêncio.
E à mim, o mais importante:
Não haveria qualquer compreensão se diante de teu abandono eu não houvesse feito da incompreensão minha mais bela amante.