sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

A Primavera passou e as flores caíram


Lembro-me de observar atentamente a desenvoltura e a elegância
O sobrevoo delicado de um pobre beija-flor
Atraído pelo perfume e pela fragrância
Cortando o ar em um voo rasante
Guiado por seu instinto
Ao encontro de sua própria amante

Notei a insistência com que buscava seu alimento
Porém, de cada partícula de néctar
Lhe viria, o prenúncio de seu sofrimento
O farfalhar do vento antecipou sua ilusão
É que de tal movimento
Flores mortas tombaram ao chão
E nada lhe serviu de alento
A não ser a certeza da aflição.

E uma nuvem de profunda tristeza
Pairou sobre tal criatura
Aquilo outrora visto com encanto e beleza
Jazia agora em sua própria sepultura
Tratava-se da mais pura rosa
E naquele instante compreendeu
Que a saudade é sua pior tortura

Compadeci-me daquele ser
E quis de algum modo buscar ajuda
Entretanto, notei que minha intenção era totalmente vazia
Pois remediava a dor
Mas não curava a ferida

E ali disperso entre a folhagem
Lembrei-me do trecho de um livro infantil
Ao reparar na singularidade daquela imagem
 “Tu te torna eternamente responsável pelo o que cativas”
Então, visualizei o sofrimento e a dor
Por fim, sentenciei
De fato, aquela rosa havia cativado este beija-flor.

Ainda sobrevoando o jardim
Buscou forças para enfrentar este suplício
 Nunca se está preparado para o fim
Ora, mas a vida não é um constante reinício ?
Talvez, esse seja o ponto de onde buscar apreço
Após o fim de uma estação
Há sempre um outro recomeço.

Àquele beija-flor,
Esta será minha singela homenagem
Ao mundo, que nos impõe mudanças
A força para seguir uma nova viagem
Doravante, qual será meu Destino ?
Quero olhar para frente de modo mais tranquilo
Pois, só se leva dessa vida
O que se aprende no caminho.

O tempo continuará correndo
E as estações irão se suceder
Quem sabe em um dado momento
Daquela rosa morta
Uma outra há de nascer
E assim, em uma mesma situação
Uma outra flor
Cative sua atenção.

Creio que o mais importante é ter ciência
O silêncio não é sinônimo de esquecimento
Deixar o passado para trás
Também é uma forma de agradecimento. 



domingo, 25 de dezembro de 2016

O Peso do Passado

Gosto de pensar que as lembranças devem ter um peso muito maior nas nossas vidas do que simples recortes de experiências do passado. Afinal, para mim é muito mais sensato imaginar que sou um constante produto de minhas experiências pessoais carregadas de toda sua intensidade emocional, a me ver como um ser de valores e crenças aleatórias e impessoais que surgiu do vácuo.  Infelizmente, é o que percebo acontecer quando deixamos de dar valor a todo o apanhado de circunstâncias e fatores externos que nos levaram a ser exatamente do modo como somos hoje.
Algumas vezes, me deparo pensando em momentos tristes de minha vida, e subitamente me questiono em que medida isso impactou em minha personalidade. Para minha surpresa, percebo que não apenas não faço a mínima ideia, como também não tenho o hábito de revisitar essas lembranças procurando ensinamentos. Como se de alguma forma aquele determinado fato nunca tivesse ocorrido. Como se de alguma forma eu tivesse despretensiosamente enterrado um passado de minha vida em uma vala de eterno esquecimento, alterando portanto, a correta percepção de minha própria identidade.
Somos escritores de nossas próprias autobiografias, e para tanto é indispensável termos conhecimento dos capítulos anteriores de nossas histórias para formarmos uma compreensão mais ampla sobre quem de fato nós somos. Acredito que esse enveredamento rumo às profundezas de nossas lembranças, embora muitas vezes desconfortável, nos remete à necessidade de estabelecer um contínuo laço de comprometimento com o passado. Digo isso pois, através do reavivamento de antigas lembranças consigo manter-me ciente de minhas metas e objetivos, e sobretudo, da necessidade de mostrar gratidão e respeito a determinadas circunstâncias.
Quantas promessas são jogadas ao vento por nossa simples incapacidade de nos manter comprometidos ? Quantos vezes esquecemos de dar valor àquilo que há poucos instantes veneramos ?  Acredito que isso ocorre, porque o tempo tem esse incrível poder de diluir a intensidade de nossos sentimentos. Nesse sentido, penso que o ser humano deve recorrentemente buscar reavivar-se de si. Acho que só através desse comportamento poderemos ter uma percepção mais completa sobre quem de fato nós somos. Afinal de contas, muito embora insignificantes frente à grandeza do universo, somos unidades altamente complexas de percepção do mundo, à espera de que as lembranças, que são continuamente produzidas, nos sirvam de matéria prima para a escrita de autobiografias coerentes e carregadas de significado.


domingo, 7 de agosto de 2016

Desafie o incerto.


Devo admitir que sempre desconfiei do quão preparado psicologicamente eu era para superar certos desafios. Não que eu me visse como uma pessoa fraca mentalmente, simplesmente não tinha conhecimento do potencial que tinha para gerenciar momentos de maior estresse. No final das contas, penso que o aspecto mais importante que aprendi ,ao longo de 70 dias desse curso de formação, foi o fato de que quando pensamento e ação não estão alinhados, invariavelmente você irá falhar.
Certa vez, ouvi uma frase que eu me deixou bem pensativo. “ É impossível crescer no conforto.” De fato, apesar de aparentar simplicidade, creio que reflete bastante o que presenciei. A verdade é que, de início, não estava nem um pouco motivado e preparado para todo o estresse físico e mental que passaria, prova disso é que pensei em desistir do curso já na segunda semana de aula, durante a primeira aula prática de armamento e tiro. Em um momento de incômodo e sobretudo, de grande irritação , por estar lançando-me ao desconhecido em um ambiente de enorme pressão, julguei que simplesmente desistir e abandonar tudo o que havia feito para chegar até ali seria a melhor das opções. Finalmente estava vendo o ponto até o qual poderia chegar, e a hipótese de estar desistindo tão fácil e rapidamente daquela oportunidade me assustava.
Acredito que os constantes desafios que enfrentamos em nossa vida são indispensáveis para forjar quem nós somos. Invariavelmente, somos submetidos a inúmeros conflitos e problemas em que não são demandados soluções. Enfim, superar adversidades nos é requerido a todo momento. No final das contas, acho que a vida tem um jeito todo especial de nos fazer atribuir valor àquilo que importa. O esforço é o preço da conquista, e a dificuldade é a certeza que estamos no caminho certo.

Observo que embora a falha seja uma possibilidade inerente a qualquer esforço, esta jamais deve ser o motivo de nossa preocupação principal. Por experiência própria , vejo que o medo e a pressão só nos impõe um fardo a mais a carregar, pois infelizmente muitas vezes somos sabotados por nossa própria mente, a qual insiste em recorrentemente nos atrapalhar. Com o fim dessa jornada, aprendi que viver bem envolve indispensavelmente essa capacidade de se jogar de forma contínua rumo às incertezas da escuridão.

No final de todo esse processo, acredito que o ponto chave para domesticar meus medos e fraquezas foi a percepção de que a dor, o suor e o sofrimento não são sinônimos de decepção e fracasso, mas sim características de um demorado processo de aperfeiçoamento. Afinal, é impossível crescer no conforto.


            

sábado, 12 de março de 2016

A harmonia do detalhe


Frequentemente observo que o ser humano apresenta um enorme fascínio pelo exato, pelo novo. Nesse sentido, não é difícil observar como nossa civilização desenvolveu historicamente uma grande capacidade de exaltar o belo, cíclico e o perfeito em detrimento do desarmônico e assimétrico. Platão, na idade antiga, já afirmava que aquilo que é belo tende ao mesmo tempo a ser justo e bom.  Em grande parte, mantemos esse mesmo raciocínio hoje em dia quando deixamos para comemorar apenas datas redondas ( 10, 25 ou 100 anos de algo ) e sobretudo o início de um novo ciclo; como o início de um novo ano. Considero que, ao agirmos assim, muitas vezes nos equivocamos ao darmos mais valor ao resultado do que ao processo em si. Como se de alguma forma, o último dos dias que compõem um ano fosse mais importante que os demais 364 dias vividos.
Acredito que todo esse fascínio tenha surgido através da necessidade que o ser humano apresenta de encontrar padrões e regularidades em sua vida.  Talvez, em razão disso, tenhamos tanta simpatia em deixarmos um projeto para começar na segunda ou esperamos uma hora redonda para iniciar nossos estudos. De fato, a regularidade e a busca de certos padrões de tempo podem simplificar e facilitar nossa vida. Afinal, não é exatamente o que fazemos quando planejamos e organizamos nossas atividades?  Entretanto, parece-me que o grande problema de vivermos uma vida tão metodicamente traçada e definida por padrões e ciclos, é justamente a possiblidade de perdermos o senso de continuidade.     
Muitas vezes, tendemos a sobrevalorizar o último passo de um enorme desafio por preciosismo ou simplesmente pela necessidade de definir um símbolo da conquista. Da mesma forma como um atleta tende a pensar que uma medalha de ouro em um campeonato é a expressão máxima de seu esforço. Não, não é, e para mim nunca será. O Fato é que pouco a pouco perdemos a noção de que a realidade se faz presente em cada segundo que vivemos, não há fórmulas ou palavras mágicas para nada, muito menos para o sucesso. A continuidade do esforço e da dedicação ao longo do processo são as verdadeiras marcas de uma caminhada exitosa.
Noto que a percepção do ser humano contemporâneo sofreu uma considerável alteração com o desenvolvimento da modernidade. Deste modo, acredito que o conceito de tempo e o senso de continuidade foram gradualmente reduzidos a fragmentos dispersos, sobretudo em uma sociedade que preza cada vez mais pela instantaneidade . Bom mesmo seria se pudéssemos dar valor aos infinitos detalhes que compõem um momento, pois aí residem a harmonia e a verdadeira beleza das lembranças que ficam.  

Recalcule sua rota

Vejo que a vida tem constantemente essa capacidade incrível de nos dizer que não podemos ter tudo que queremos. E quer saber? Tudo bem. ...

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