quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A beleza do momento na simplicidade do detalhe.


Enfim terminei minha série na academia. Devo admitir que muito embora venha tornando isso um hábito em minha vida ainda não vejo resultados concretos. É frustrante reconhecer que não importava o quanto eu me esforçasse naquela assustadoramente normal segunda feira nenhuma mudança acentuada e definitiva se produziria em meu corpo. Às vezes tenho a impressão de que estou aprisionado dentro de uma dia,  como quando as expectativas de hoje podem não se projetar no amanhã, nos restando apenas esperar que o suceder dos dias nos tragam a almejada libertação.  Se isso era mais um dos meus devaneios ou não, pouco me importava. Olho pela janela do 2º andar da academia onde me encontrava e vejo o movimento: a garoa caindo, um senhor sentado sozinho no quintal de sua casa, carros estacionados, crianças correndo na quadra, uma mulher fazendo compras. Realmente, tudo naquele dia estava normal. Antes de partir, porém, a chuva aumenta. Parado na frente do prédio, olho para cima e  vejo o céu cinzento desabar em água, receoso entre o ir ou esperar decido pelo primeiro e me lanço correndo pela forte chuva.
Às 6h 30, o meu celular começou a tocar uma música dos Beatles: In my life.  Era o meu despertador me fazendo lembrar o quão chato é acordar cedo, principalmente num dia nublado chuvoso e frio. Na vida nem sempre se faz o que quer, confesso que esta frase, por mais boba que possa aparecer, foi a minha motivação para sair da zona de conforto da minha cama e rumar em direção às incertezas que aquele dia poderia me proporcionar.
Há um certo tempo, por volta de dois anos, venho me desafiando a ser uma pessoa mais sociável. Vejam bem meus caros leitores, não sou um psicopata autista sem qualquer noção da realidade ou do que é viver em sociedade. Eu admiro muito pessoas que sabem falar bem em público, escrevem bem e se socializam com outras pessoas de um modo tão natural e espontâneo que faz toda essa dinâmica social parecer algo trivial. Realmente acho que uma pequena parcela da sociedade detém esta habilidade, e sinceramente não vejo mal algum em procurarmos sermos pessoas melhores.
Nesse dia porém, após pegar meu ônibus de volta para casa,  senti que devia um grande pedido de desculpas a mim mesmo por ter decepcionado minhas expectativas quanto a estas habilidades mais uma vez . Regressão, desmotivação, estagnação do aprendizado e da alto estima: tudo isso me fazia questionar: Porque eu simplesmente não fiquei em casa neste dia ? E se meu celular não despertasse ? E se eu não tivesse escutado nada ? E se...?  Bom, perguntas sempre insistem em nos atormentar quando algo dar errado, talvez seja meu medo de errar ou quem sabe de arriscar.
Entre acertos e erros, não esperava muito desta segunda feira. Chego em casa, almoço, descanso e, na ânsia de literalmente me tornar uma pessoa mais forte,  decido ir à academia. Certas vezes o dia parece evoluir como uma bola de neve, quando sentimos que não estamos confortável com algo, tudo que queremos é que o dia se encerre logo, e enquanto isso não acontece a concentração se esvai nos deixando pouca saída a não ser conduzir o resto do dia no piloto automático.    
Na academia, executo a séria que eu mesmo estabeleci . Sinto com isso pelo menos um conforto por de fato consegui executar algo que eu planejei. Às vezes até mesmo nossos comportamentos insistem em querer fugir dos nossos padrões e expectativas traçadas. De fato, motivação e disciplina devem ser algo constante em nossa vida, penso comigo. Infelizmente, ao término da minha série observo que a chuva começa a engrossar. Acho que isso poderia ser um sinal para as minhas perguntas: Sim, de fato deveria ter ficado no calor da minha cama nessa segunda feira tão normal.
Parado na frente do prédio, olho para cima e  vejo o céu cinzento desabar em água, receoso entre o ir ou esperar decido pelo primeiro e me lanço correndo pela forte chuva. Movido pelo interesse de ousar, de não me deixar ser atrapalhado por uma chuva, por mais forte que seja, resolvi correr. Ironia da vida ou não, acho que naqueles segundos que sucederam minha decisão esbocei pela primeira vez no dia um sorriso.
 Lembro-me de sentir a água gelada tocando meu corpo em um dia frio e nublado, do vento frio da corrida esbarrando na minha face, mas mesmo assim estava sorrindo. E esse momento de aventura, instantaneamente, me trouxe à mente momentos de criança: um inesquecível jogo de futebol num campo todo alagado de lama num dia chuvoso e vezes que, na presença da chuva, aproveitava para correr e simplesmente me deixar molhar. Curiosamente ou não, naquele momento eu estava correndo e pasmem vocês, eu também estava me molhando.
Chegando em casa, todo encharcado, tiro a camisa e antes que pudesse me apressar a retirar meu tênis, algo me veio à cabeça. Sim é isso, disse sorrindo como se tivesse descoberto alguma fórmula mágica. A beleza da vida se assenta na inquietação e na ousadia para se buscar o incerto e o duvidoso e com esta mesma atitude vivenciar profundamente o banal, o ordinário, o cotidiano. Prova disso é que muitas vezes só damos o real valor a algo que nos cerca quando o perdemos. Sim, poderia ter ficado na minha cama pelo resto do dia, ou simplesmente poderia ter esperado a chuva passar.  A questão é: eu teria aprendido alguma coisa permanecendo na minha zona de conforto?
Definitivamente aquele dia não era normal, era uma segunda feira, dia 19 de novembro de 2012, um dia único e singular na mina vida.  

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O erro e o homem



Não é fácil deixar de defrontar com a derrota e suas implicações em nosso dia a dia. Frequentemente, nós nos deparamos com inúmeras situações em que, mesmo preparados e habilitados para executar e ou lidar com o fato, experimentamos o fracasso. De imediato, me vem à cabeça o exemplo dos esportes de alto rendimento, nos quais, invariavelmente, um dos atletas ou grupo de atletas amargará o insucesso ao final de uma competição. Nesse sentido, não há nada que possamos fazer a respeito, simplesmente porque o controle dos acontecimentos e o modo como os mesmos podem ocorrer fogem completamente do domínio humano. A imprevisibilidade é um fator constante em nossas vidas, quer seja no trabalho ou nas atividades recreativas.
Diante disso, o máximo que o homem é capaz de interferir para atingir seus próprios objetivos reside no controle de suas competências, pois a despeito do que é conhecido no senso comum, a prática leva ao aperfeiçoamento, e este potencializa as chances de vitória. Não é à toa que diversas máximas e adágios populares expressam e enfatizam o valor do trabalho, do treino e da repetição para que as metas sejam alcançadas.
Entretanto, quando os resultados não vem não nos resta outra coisa senão lamentarmos. Vivemos em uma sociedade profundamente atrelada aos resultados. Se vendemos x produtos somos promovidos, se ganharmos y medalhas somos os melhores, se conquistarmos z campeonatos somos imbatíveis. A derrota, seja ela na brincadeira no esporte ou no quotidiano da vida, sempre nos causa desconforto, afinal, ela é sintomática de que estamos fazendo algo errado ou aquém dos resultados esperados.
 O contraste entre a alegria da vitória e a desilusão da derrota reforça, como na foto ao lado, o abismo existente entre as implicações de ambos na mente humana. Se para a primeira, a sensação de sagra-se vencedor em algo a muito almejado, seja ele a conquista de um título importante no esporte ou a aprovação em um concurso público, constitui-se em momento de êxtase e euforia, para a segunda, não é legado outro alento senão a reflexão sobre os erro; a contemplação cabisbaixa de que fomos superados e de que o melhor oferecido não foi o bastante.
Assim, me vem à mente algo um tanto quanto inusitado. Diria que a derrota carrega em si uma grande função social. Sim, ela como um sábio, se coloca sempre ao nosso lado, à espera de um momento de deslize à espreita de que ao incorrermos no erro ela nos esbofete na cara e nos diga “ você não será o melhor enquanto não procurar ser o melhor.” Se por um lado crescemos ouvindo aquela velha máxima “ O importante é competir”, no fundo, sempre queremos ser os melhores. Vivemos numa sociedade que exalta o primeiro colocado e se esquece dos demais. Creio que não compete à mim buscar mudar essa situação. Não penso que devemos nos satisfazer e acomodarmos com o que temos. Ora, a ambição e ousadia para tentar, quando dentro do parâmetro moral, são sempre muito bem vindos. Penso seriamente em começar a ouvir esta voz da derrota e me deixar motivar por ela. Talvez assim, meu relacionamento com o erro seja bem mais amigável. 

Dias Chuvosos



“Tem dias que a gente se sente um pouco, talvez, menos gente. Um dia daqueles sem graça, de chuva cair na vidraça” Assim, Raul Seixas inicia a música Profecias (1979). Confesso que achei bastante interessante este começo. É um trecho que nos faz querer imaginar e relembrar esta situação, o que juntamente com a melodia da música, meio depressiva por sinal, nos faz, tão de súbito, mergulhar nas incontáveis lembranças de dias tristes e sem cor, que momento ou outro experimentamos ao longo de nossa vida, e que com a música sentem-se encorajadas a vir a nossa consciência. Aliás, Creio ser este um dos grandes serviços da música: despertar em nós um específico estado de espírito. Ademais, e atendo-se ao título da crônica, diria que dias chuvosos são necessários para que apreciemos e reflitamos sobre nossas vidas, nossas angústias, nossos medos, nossas lembranças.
A chuva intensa quebrava sobre o para-brisa do carro que meu pai me emprestara. Minha aula de alemão havia acabado e eu me encontrava pronto para voltar para minha casa. Sentado ali, dentro do carro e observando a velocidade e a desenvoltura com que as gotas de chuva caiam no vidro e subitamente se espalhavam, formando aquele velho chiado inconfundível de chuva irrompendo contra uma superfície, e envolto pelo conhecido cheiro de terra molhada, o qual insistia em adentrar no carro, eu olhava para frente, mas não via nada além de lembranças. Era 17 de outubro de 2011 e naquele mesmo dia um grande amigo meu havia falecido.
  A sensação de que somos completamente passivos e impotentes diante do tempo nos causa desconforto. Crescemos com a disponibilidade de usarmos de diversos recursos tecnológicos no transporte, na comunicação, no entretenimento, na saúde etc, mas mesmo assim, diante do tempo somos completamente incapazes  de sobre ele exercer qualquer alteração. Não podemos retardar, avançar, ou parar o tempo. Mas, por outro lado, somos constantemente por ele alterado.
     

  Impressionante como algo que para nós é usual e recorrente pode tão de súbito ser eternamente aprisionado no passado. Tal qual o tempo repentinamente nos roubasse algo para nunca mais devolver. A morte, embora eu não veja como único exemplo, assume com toda certeza o fator mais ilustrativo. E diante desta teimosa delinquência do tempo, que insiste em continuar nos privando daquilo que temos ou gostamos, não nos resta outra coisa senão recorrermos à nostalgia e às lembranças.
Estava dentro de um carro em um estacionamento cheio de veículos, mas completamente deserto de pessoas. Engraçado como, por certas vezes, o que sentimos converge bastante com o que vemos. Afinal, a lembrança de que naquele dia havia perdido um grande amigo também me fazia senti um tanto “deserto” por dentro. 
Recostar no banco do carro, ligar o automóvel, tentar vislumbrar o horizonte verde a minha frente por meio do vidro molhado e assim, exatamente assim mesmo, pensar na vida, pensar em mim mesmo pensando na vida e no modo como eu, ali, me encontrava. Infelizmente, tudo isso não mudaria nada do que aconteceu, mas com toda a certeza marcaria este momento em minha memória de um modo único e especial. Do modo como eu escrevo agora. Não me restava outra coisa senão finalmente dar a partida no carro e me conduzir de volta para casa. Quem sabe, assim como o carro, que nos ajuda a sair de um local e chegar em outro, também meus sentimentos pudessem migrar do saudosismo melancólico para algo melhor. 
Pronto. Tinha que sair dali. Antes porém, decido ligar o rádio. Afinal de contas, nada melhor do que a música para nos fazer despertar um específico estado de espírito.    
  

Recalcule sua rota

Vejo que a vida tem constantemente essa capacidade incrível de nos dizer que não podemos ter tudo que queremos. E quer saber? Tudo bem. ...

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