Às
vezes nos tornamos prisioneiros de nossa própria ignorância. Sem perceber,
conduzimos nossas vidas sendo escravos de nossas vaidades e incompreensões. E
assim, nos superestimamos. Muitas vezes, julgando nossos interesses como o mais
importante, desenvolvemos uma arrogância típica o suficiente para nos fazer
acreditar que somos capazes de passar por tudo e por todos independentemente de
ajuda alheia. No fundo, acredito que isso ocorre porque vivemos em um mundo de
elevadas expectativas e demandas depositadas sobre nós. O curioso é que, por
outro lado, nos tornamos cada vez mais insensíveis à dor e aos pequenos
detalhes que cercam nossa existência. Assim, penso que, às vezes, devemos pacientemente
desfrutarmos do erro, da angústia, do medo. Enfim, nada melhor do que a falha
para nos arrebatar o orgulho e nos libertar do vício de nós mesmos.
Às
vezes basta um pequeno deslize para que percebamos o frágil equilíbrio em que
sustentamos nosso raciocínio. Às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para
que percebamos que desconhecimento e fracasso não são sinônimos de fraqueza. De
fato, acredito que a vida tem esse jeito todo especial de nos fazer dar valor a
algo através do contraditório, do ambíguo. Do mesmo modo que a falta nos ensina, o
excesso nos empobrece.
Lembro-me
de estar sozinho lendo alguns textos na faculdade antes de um prova. Era tarde,
por voltas das 16hs, e ainda me encontrava preocupado com o tanto de textos que
tinha deixado pra revisar na última hora. Entre alguns momentos de sono e distração, que
insistiam em me perturbar, me peguei olhando bem ao fundo do horizonte verde e
seco a minha frente, para algum lugar onde céu e terra pareciam se fundir. De
repente me percebi ali, admirando o sol, que anunciava seu próprio pôr, e o
horizonte plano a minha frente. Enfim,
engraçado como a observação de uma cena simples pode às vezes desencadear todo
um processo de introspecção e auto- questionamento.
Sentar
sozinho em um espaço qualquer defronte ao sol e ao cerrado, ouvindo uma de
minhas músicas nostálgicas me fez, por um breve instante, observar o mundo fora
de mim, como se minha consciência personificasse uma outra pessoa. Lembro-me de
ter sentido uma extrema sensação de conforto e paz interior, como se na verdade
o sol fosse um ponto de fuga para dentro de mim mesmo. Desse modo, notei que a contemplação daquele
êxtase me fez querer mostrar mais gratidão pelo pouco que sou e o que tenho, tal
qual houvesse uma força me despertando para um nova realidade. Naquele
instante, senti que poderia passar horas observando o sol sem nem ao menos me
importar com o tempo.
No
final das contas, percebi que a barreira do orgulho e da insensatez de nossos pensamentos é
fruto de nossa própria omissão. Nossa omissão em derrubar as grades que
constantemente nos apequenam e nos impedem de perceber que a felicidade, de
fato, repousa na simplicidade dos detalhes. Nesse sentido, acredito ser dever
de cada um de nós, por certos momentos, nos desligarmos do mundo extremamente competitivo
em que vivemos, e apreciarmos mais detidamente a fragilidade, a inocência, a
fraqueza e a sensibilidade que se estabelece ao nosso redor. Enfim, nada melhor do que encontrar o brilho
adequado para iluminar o caminho de nosso entendimento.