sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Mais do que palavras

Busquei transformar emoções em pequenos versos
E durante todo esse tempo
Tentei organizar meus pensamentos mais dispersos
É realmente complicado atribuir sentido a o que não vemos
Palavras parecem sempre tão vazias em meio a sentimentos tão complexos
Ainda assim, não me dei por vencido
Quero conferir a cada letra que escrevo o significado mais completo.  
Tal qual pudesse de algum modo inventar novos sentidos

Certa vez, me impressionei com a história de um beija-flor.
Tratava-se de um animal que passava dias trabalhando de modo solitário
Ousei-me questionar sobre sua dor
Mas logo percebi que o nascer de uma flor era seu maior salário
Procurei entender de todos os modos seu funcionamento
E fiquei maravilhado com a atitude desse humilde operário
Trabalhar em prol da natureza sem cobrar nem um único provento
É com certeza algo digno de um ser agraciado.

Entretanto com o cair do outono
Pude perceber seu comportamento se reduzir à angústia
A queda das folhas e a secura do tempo
O fez sentir como há tempos não sentia
É que um beija-flor só tem razão de viver
Enquanto houver uma flor aguardando sua vinda.
Ainda assim, o prolongar dessa situação
Fez-me despertar para algo que não havia pensado
De que adianta viver uma grande emoção,
Se não houver alguém com quem esse sentimento possa ser compartilhado ?

Quando as primeiras horas da primavera se aproximaram
Tratei de observar a reação desse ser tão encantado
Suas pequenas asas bateram-se como nunca
Anunciavam a vinda desse dia tão esperado
Não se trata apenas de uma palavra qualquer
Primavera é para o beija-flor a materialização de algo há muito desejado.
Ela representa não apenas o verde e o desabrochar de cada flor
Mas sobretudo e principalmente ,
A chegada daquilo que o faz sentir seu valor.
Só espero que isso tenha me servido de alerta
De como as palavras são profundas quando carregadas de amor
Râmyla, você é minha primavera. ! 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Ode à Raiva


Nada mais animalesco e primitivo
que este instinto ao qual remonto
A raiva é a potência do caos,
É a destruição presa no seu frasco mais ativo
A raiva é a essência de todo ser pensante
É a expressão de nosso lado mais compulsivo
A raiva é a certeza do inconformismo
É um convite a desfrutar-me daquilo que me é corrosivo

Quando com ela me deparo
Anseio por respostas as minhas perguntas mais complexas
Tenho obsessão por justificativas que me tragam amparo
Venero a certeza e a retidão dos argumentos apresentados
Entretanto, se noto o menor sinal de falha e  fraqueza nas suas palavras
Desperto-me para uma indignação incontrolável
Quero encontrar culpados
E direcionar a eles, toda  minha mais completa fúria aprisionada
Já não sou mais capaz de concatenar sentimentos lógicos
Simplesmente quero a materialização daquilo que me foi negado

O correr do tempo apenas intensifica o meu querer
Exijo respostas, ainda que elas me levem à tristeza
Exijo um retratamento  ainda que não haja culpados
Exijo não ter vivido aquele sofrimento, ainda que seja impossível
Exijo respostas do tempo e do espaço,  ainda que não tenha posição para exigir coisa alguma
E antes de tudo, eu exijo a capacidade de fazer exigências.
Nada melhor para convencer-me  de que ainda posso lutar.

A bem da verdade,  eu só quero o que não posso
Repudio a dor e a fraqueza
Insisto na busca até que as respostas me sejam convincentes
Deturpo minha natureza
A raiva é a potência do caos
É a faísca que precede à explosão
É o instante antes do nada
É o dual o início e a negação
É meu recurso de defesa
É a coragem e o  medo
É a covardia e a destreza
O silêncio e o desejo.

Quem responde minhas perguntas,
E a quem dirijo a minha ira ?
Minha insatisfação logo volta-se a mim
Assim, torno-me refém de minha armadilha
Alimentar ainda mais este monstro
Só me torna o culpado e a vítima
Preciso expelir isso de mim.
Melhor !  preciso canalizar esta força vital em algo produtivo
Preciso enjaular este monstro e faze-lo trabalhar a meu favor
Pretendo incorpora-lo e explorar seu lado mais agressivo

Deste modo, a raiva não é o que demonstro
é minha ira escravizada
é minha obsessão por respostas me tornando mais assertivo
Começo a encontrar respostas
A raiva não é mais o convite a o que me é corrosivo
É antes de tudo a força da qual emana minha criatividade
É a desordem trabalhando em prol da unidade
Essência humana alguma jamais ultrapassará a raiva como força interna
A raiva é o frasco potencializador de qualquer qualidade
Simplesmente porque não há nada mais primitivo e atual,
 animalesco e civilizado
A raiva é a expressão máxima do homem e da humanidade










sexta-feira, 22 de maio de 2015

Esquecer-se de viver

De tanto querer ser em tudo o primeiro. Esqueci de viver os detalhes pequenos. De tanto brincar com os meus sentimentos Vivendo de aplausos, envolto em sonhos” (Me esqueci de viver/ José Augusto ) Confesso que ouvir esta música me faz despertar para uma específica reflexão sobre como muitas vezes somos conduzidos por nossos orgulhos, vícios e vaidades. Gosto de refletir sobre a natureza humana e buscar formas de entende-la. De fato, não é difícil perceber como muitas vezes nos iludimos dentro do universo de aparências que nós mesmos construímos. Fantasiando-nos de algo maior do que de fato somos, muitas vezes buscamos no exterior nossa própria essência. E gradualmente, é possível perceber que toda essa busca incessante por preencher nosso vazio revela-se infrutífera. Sinceramente, tenho receio de que algum dia, assim como o eu lírico da canção, eu possa olhar para trás e perceber que tudo o que eu vivi não passou de um grande engano.
Tenho para mim que o homem é o constante conflito de suas contradições, medos e vaidades. Inevitavelmente, haverá momentos de maior e menor sensatez, maior ou menor humildade. Quer queiramos ou não, somos produtos de nosso contexto e tendemos a amadurecer com o tempo. E quando esse momento de maior sobriedade nos arrebata, nada pior do que perceber o fardo do arrependimento por aquilo que deveríamos ter feito ou evitado. Nada pior do que sentirmos o peso de nossa consciência sobrecarregar-nos os ombros. É quando nos tornamos reféns de nós mesmos e vítimas daquilo que éramos no passado.
Muitas vezes, nossas próprias percepções são a origem de todo o engano. Às vezes, somos trapaceados pela nossa mente, que nos instiga constantemente a permanecer incorrendo no mesmo e indesejável erro. De que outro modo explicar a mente de um viciado que não consegue largar o vício, muito embora saiba exatamente das consequências de seus atos ?  Quando perdemos essa autonomia sobre nós, perdemos também uma parte de nosso próprio senso de realidade, senso este indispensável à vida social e sobretudo, ao desfrute de nossa própria autoestima.

O orgulho ferido e a vergonha de nós mesmos, nos faz sentirmos cada vez mais desprezíveis. É quando a superficialidade de nossas iniciais razões é confrontada com valores muito maiores. Fantasiar um universo paralelo como zona de conforto para nossas imperfeições não muda a realidade a ser enfrentada. Assim, percebo que buscar no outro ou em algo externo a nós a validade para nosso auto respeito, é entrar numa espiral que tende inevitavelmente a se esgotar.
            Talvez, este exercício de reflexão que faço agora, me ajude, ainda que minimamente, a desenvolver um grau de discernimento necessário a lidar com as inconstâncias da vida. Bom, o fato é que os arrependimentos que tive e o medo de errar novamente são os melhores combustíveis para manter-me focado e vigilante. Enfim, nada melhor do que se lembrar das próprias falhas, para evitar se esquecer de viver.  



                                       

                                ( Me Esqueci de Viver - José Augusto, a letra da música fala por si só )


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

um novo despertar

Às vezes nos tornamos prisioneiros de nossa própria ignorância. Sem perceber, conduzimos nossas vidas sendo escravos de nossas vaidades e incompreensões. E assim, nos superestimamos. Muitas vezes, julgando nossos interesses como o mais importante, desenvolvemos uma arrogância típica o suficiente para nos fazer acreditar que somos capazes de passar por tudo e por todos independentemente de ajuda alheia. No fundo, acredito que isso ocorre porque vivemos em um mundo de elevadas expectativas e demandas depositadas sobre nós. O curioso é que, por outro lado, nos tornamos cada vez mais insensíveis à dor e aos pequenos detalhes que cercam nossa existência. Assim, penso que, às vezes, devemos pacientemente desfrutarmos do erro, da angústia, do medo. Enfim, nada melhor do que a falha para nos arrebatar o orgulho e nos libertar do vício de nós mesmos.   
Às vezes basta um pequeno deslize para que percebamos o frágil equilíbrio em que sustentamos nosso raciocínio. Às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para que percebamos que desconhecimento e fracasso não são sinônimos de fraqueza. De fato, acredito que a vida tem esse jeito todo especial de nos fazer dar valor a algo através do contraditório, do ambíguo.  Do mesmo modo que a falta nos ensina, o excesso nos empobrece.
Lembro-me de estar sozinho lendo alguns textos na faculdade antes de um prova. Era tarde, por voltas das 16hs, e ainda me encontrava preocupado com o tanto de textos que tinha deixado pra revisar na última hora.  Entre alguns momentos de sono e distração, que insistiam em me perturbar, me peguei olhando bem ao fundo do horizonte verde e seco a minha frente, para algum lugar onde céu e terra pareciam se fundir. De repente me percebi ali, admirando o sol, que anunciava seu próprio pôr, e o horizonte plano a minha frente.  Enfim, engraçado como a observação de uma cena simples pode às vezes desencadear todo um processo de introspecção e auto- questionamento.

Sentar sozinho em um espaço qualquer defronte ao sol e ao cerrado, ouvindo uma de minhas músicas nostálgicas me fez, por um breve instante, observar o mundo fora de mim, como se minha consciência personificasse uma outra pessoa. Lembro-me de ter sentido uma extrema sensação de conforto e paz interior, como se na verdade o sol fosse um ponto de fuga para dentro de mim mesmo.  Desse modo, notei que a contemplação daquele êxtase me fez querer mostrar mais gratidão pelo pouco que sou e o que tenho, tal qual houvesse uma força me despertando para um nova realidade. Naquele instante, senti que poderia passar horas observando o sol sem nem ao menos me importar com o tempo.   
No final das contas, percebi que a barreira do orgulho e da insensatez de nossos pensamentos é fruto de nossa própria omissão. Nossa omissão em derrubar as grades que constantemente nos apequenam e nos impedem de perceber que a felicidade, de fato, repousa na simplicidade dos detalhes. Nesse sentido, acredito ser dever de cada um de nós, por certos momentos, nos desligarmos do mundo extremamente competitivo em que vivemos, e apreciarmos mais detidamente a fragilidade, a inocência, a fraqueza e a sensibilidade que se estabelece ao nosso redor.  Enfim, nada melhor do que encontrar o brilho adequado para iluminar o caminho de nosso entendimento.  

Recalcule sua rota

Vejo que a vida tem constantemente essa capacidade incrível de nos dizer que não podemos ter tudo que queremos. E quer saber? Tudo bem. ...

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