Liberte-me
de suas mãos, Deixe-me voar para terras distantes/ Sobre campos verdes, árvores
e montanhas/ Flores e fontes em florestas. Para casa, ao longo das raias do
horizonte. (tradução de trecho da música skyline Pegeon, Elton John. 1969
). Confesso que nem sempre é fácil desapegar
de pessoas, circunstâncias ou lugares. Sobretudo quando ainda há emoções
envolvidas. Entretanto, noto que a vida constantemente nos ensina que é preciso
sepultar o passado para que o presente possa ter lugar. Aprendi que é preciso
deixar partir aquilo que um dia já foi importante, soltar as mãos daquilo que
nos acorrenta às lembranças e ter a coragem de fixar o olhar no horizonte a
nossa frente, muita embora cada parte do nosso corpo nos diga que é mais seguro
ficar ali parado, ao invés de iniciar a caminhada.
Gosto
de pensar que a vida é como um rio, que caminha sempre em sentido ao mar. Quer gostemos ou não, o universo não nos
questiona se queremos avançar, retardar ou voltar no tempo. Por isso, não nos
resta outra opção a não ser nos deixar se conduzido pela correnteza e apreciar
cada detalhe da viagem no seu tempo oportuno. Assim, vejo que fixar demasiada atenção em águas
passadas nos impede de observar o novo que se produz a cada instante. Da mesma
forma, noto que cada fase de nossas vidas trás consigo um conjunto de
preocupações e descobertas bem características.
Definitivamente,
não tenho a mesma inocência, nem os mesmos medos de quando era criança ,
tampouco a mesma imaturidade de 10 anos atrás. Ter a coragem de levantar a
cabeça e olhar para cada percalço do caminho é perceber que cada mudança de
ritmo na viagem invariavelmente trás consigo novas aprendizagens. É perceber
que a experiência adquirida no trajeto nos deixa mais sensível a notar sutileza
de cada detalhe.
É
bem verdade que somos o constante produto de nosso passado. E, irremediavelmente,
ao longo de toda essa jornada acumulamos muitas decepções, mágoas , raivas e um
punhado de tantas outras emoções negativas. Nesse meio termo, constatei que os
sentimentos ruins nunca se acabam por si mesmo, mas pelo contrário, se retroalimentam.
Por isso, aprendi que deixar crescer em nós tais sentimentos é também acumular
uma parte do lixo juntado no caminho e que fomos incapazes de descartar no
momento adequado. Assim, deixar partir é
jogar fora o desnecessário e compreender que cada vírgula de nossa
autobiografia foi indispensável para a consolidação do que nós somos hoje.
Deixar
partir é sinal que você valoriza a si mesmo, e tem confiança o bastante para
acreditar que é preferível a incerteza do horizonte ao sofrimento do presente.
É olhar para cada grão de areia que escorre entre os dedos e perceber que a
beleza da vida reside justamente nessa completa imprevisibilidade de idas e
vindas. Em suma, deixar partir e permitir chegadas é simplesmente compreender
que a vida é um fenômeno muito maior que nossa capacidade de abstraí-la, mas
tudo bem. Não há problema algum com
isso.
( skyline Pegeon, Elton John)