“Mesmo
com tantos motivos, pra deixar tudo como está. Nem desistir, nem tentar. Agora
tanto faz, estamos indo de volta pra casa” ( 1985, Legião Urbana) Acredito que
existe toda uma mística em torno do regresso à casa. Não à toa, frequentemente
observo essa temática ser tratada em livros, filmes e músicas. Penso que esta
forte simbologia existe em razão do que socialmente é esperado de cada um de
nós: sair do ninho e ganhar a própria independência.
Na
parábola do filho pródigo, o regresso à casa representa ao filho desertor o
arrependimento juntamente com o reconhecimento dos próprios erros. Como se de
algum modo, a casa concretizasse a idéia de zona de conforto, dentro da qual
todo fracasso fosse não apenas tolerável como permitido. Para além disso,
considero o conceito de lar como a expressão máxima de uma segurança materna,
capaz de te acolher a qualquer tempo
quando o decurso de nossas vidas apontam para caminhos solitários.
Para
o soldado que volta da guerra e reencontra sua família, a casa é a
materialização da satisfação e a certeza do dever cumprido. É a constatação de que
cada esforço valeu a pena, é a sensação de felicidade pelo simples fato de
presenciar aquele momento. Enfim: é a definição mais precisa de que a dor da
saudade apenas reforça o vínculo entre o lugar e a pessoa.
Interpreto
o regresso simbolicamente como uma tentativa de volta ao passado, uma ação
orientada a reencontrar um amontoado de boas recordações impregnadas em cada
cm² daquele espaço. Embora haja todo um mito em torno do sujeito que ousa sair
de sua zona de segurança, lança-se ao incerto e consegue se fazer na vida (vim vi venci), as razões que
apontam para o regresso são muito mais complexas.
Apesar
de tudo, no fundo vejo esta mística em torno da volta como uma forma muito
especial socialmente construída de se dizer o quanto algo ou alguém são
verdadeiramente importantes para você. É
reconhecer uma parte da sua história e ter a ciência que você não tem a menor
intenção de deixa-la esmaecer com o tempo. Enfim, voltar é um eterno convite ao reencontro consigo mesmo.