sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Toda flor tem seu valor

Infelizmente vivemos em uma sociedade extremamente pragmática. Pragmática ao ponto de que algo ou alguém só tem valor na medida em que ainda mostra-se útil. Pragmática ao ponto de que muitas vezes a análise da beleza precede a da essência do ser.  Sinceramente, prefiro acreditar que isso é apenas mais um de meus incontáveis devaneios, mas não.  A negação da realidade não a muda não tampouco contribui para o seu fim. Devo seguir em frente apesar das insatisfações e frustrações que surgem. No final das contas: não é exatamente sobre isso de que se trata a vida ?
Há certos fatos na vida que realmente são muito curiosos. É curioso como o tempo tem essa incrível capacidade de suceder a si mesmo e como esta sucessão contínua movimenta toda a máquina da vida.  Aprendemos desde pequenos na escola que todos os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Puxa ! Que visão mais enfadonha, limitada e mecanicista. Por sinal, quando de fato realmente aprendemos que devemos ser felizes e proporcionar felicidade aos demais ?  Quando de fato aprendemos que devemos dar valor aos pequenos detalhes de nossa existência ?  Talvez seja desde então que começamos a nos tornar tão pragmáticos. Em uma sociedade onde tempo é dinheiro, creio que a profissão de poeta nunca foi tão desprezada, se é que ainda é possível viver disso. Afinal, quantos ainda estariam dispostos a abdicar parte de seu tempo para apreciar palavras ? Nada além disso ! Creio que a vida não se resume à razão, é indispensável que também saibamos desenvolver outros aspectos, como o emocional e o espiritual.
O tempo sucede o tempo. Engraçado como esta pequena lógica é capaz de englobar a história de toda existência minha, sua e do restante da humanidade.  E diante disto, o homem ,como qualquer outro ser, sofre com os efeitos perversos deste fenômeno: o envelhecimento.  O que mais me intriga em todo este processo é saber como somos observados de maneiras tão diferentes em nossas vidas. Sim, veja bem. Ao nascer somos vistos como um grande ser em potencial, somos fruto de uma longa espera e, portanto, bajulados. À meia idade, por outro lado, somos praticamente tudo o que poderíamos vir a ser, exercitamos nossas escolhas e tomamos nossos rumos. Adiante, quando já velhos, somos em grande parte produto do que fomos e característica das escolhas que tomamos. Neste aspecto,  não é difícil nos depararmos com quem entenda a velhice como sinônimo de invalidez. Não é difícil perceber como este tipo de raciocínio leva as mais grosseiras distorções, a tal ponto que se possa por alguém em um asilo como se põe um brinquedo quebrado em um quarto de despejo.

Certa vez enquanto esperava o ônibus em uma parada, reparei a queda de uma flor ao chão ocasionada pela força do vento. Notei atentamente a indiferença àquela inocente flor de todos os que ali também se encontravam. Infelizmente, nenhuma daquelas pequenas pétalas murchas seria algum dia admirada, nenhuma daquelas pétalas seria motivo para arrancar sorrisos de contemplações ou mesmo um olhar de admiração. Pobre flor, quanta infelicidade deve ser para a mesma descobrir que aquilo que outrora fora vistoso e belo agora reduz-se a mais uma parte do lixo que se acumula na rua, alheio a qualquer sentimento de compaixão.
Tenho para mim que o mais importante é sabermos encontrar nossa utilidade, não para os outros, mas sim para nós mesmos. Nada melhor do que aquela sensação de dever cumprido ou satisfação pessoal que nos motiva a continuar nos desafiando dia após dia. Neste sentido, considero que quando chegamos a estas conclusões finalmente já teremos aprendido que na vida o mais importante é sabermos dar valor a cada ínfimo detalhe que cerca nossa existência, pois em cada fragmento destes detalhes repousa uma parcela da felicidade.
Antes de entrar naquele ônibus, opto por fazer algo diferente. Decido coletar aquela flor desfigurada e maltratada pelo tempo e guarda-la comigo. Sim, definitivamente fiz a escolha certa. Tenho certeza que independentemente do que aconteça, aquela flor para mim sempre preservará sua utilidade. Penso em até mesmo guarda-la cuidadosamente para que um dia quando meus ombros se curvarem ao peso do tempo aquelas pétalas também sejam testemunhas de que a beleza, de fato, não precede a essência. Sim, definitivamente fiz a escolha certa. Afinal de contas, toda flor tem seu valor. 

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