sexta-feira, 22 de maio de 2015

Esquecer-se de viver

De tanto querer ser em tudo o primeiro. Esqueci de viver os detalhes pequenos. De tanto brincar com os meus sentimentos Vivendo de aplausos, envolto em sonhos” (Me esqueci de viver/ José Augusto ) Confesso que ouvir esta música me faz despertar para uma específica reflexão sobre como muitas vezes somos conduzidos por nossos orgulhos, vícios e vaidades. Gosto de refletir sobre a natureza humana e buscar formas de entende-la. De fato, não é difícil perceber como muitas vezes nos iludimos dentro do universo de aparências que nós mesmos construímos. Fantasiando-nos de algo maior do que de fato somos, muitas vezes buscamos no exterior nossa própria essência. E gradualmente, é possível perceber que toda essa busca incessante por preencher nosso vazio revela-se infrutífera. Sinceramente, tenho receio de que algum dia, assim como o eu lírico da canção, eu possa olhar para trás e perceber que tudo o que eu vivi não passou de um grande engano.
Tenho para mim que o homem é o constante conflito de suas contradições, medos e vaidades. Inevitavelmente, haverá momentos de maior e menor sensatez, maior ou menor humildade. Quer queiramos ou não, somos produtos de nosso contexto e tendemos a amadurecer com o tempo. E quando esse momento de maior sobriedade nos arrebata, nada pior do que perceber o fardo do arrependimento por aquilo que deveríamos ter feito ou evitado. Nada pior do que sentirmos o peso de nossa consciência sobrecarregar-nos os ombros. É quando nos tornamos reféns de nós mesmos e vítimas daquilo que éramos no passado.
Muitas vezes, nossas próprias percepções são a origem de todo o engano. Às vezes, somos trapaceados pela nossa mente, que nos instiga constantemente a permanecer incorrendo no mesmo e indesejável erro. De que outro modo explicar a mente de um viciado que não consegue largar o vício, muito embora saiba exatamente das consequências de seus atos ?  Quando perdemos essa autonomia sobre nós, perdemos também uma parte de nosso próprio senso de realidade, senso este indispensável à vida social e sobretudo, ao desfrute de nossa própria autoestima.

O orgulho ferido e a vergonha de nós mesmos, nos faz sentirmos cada vez mais desprezíveis. É quando a superficialidade de nossas iniciais razões é confrontada com valores muito maiores. Fantasiar um universo paralelo como zona de conforto para nossas imperfeições não muda a realidade a ser enfrentada. Assim, percebo que buscar no outro ou em algo externo a nós a validade para nosso auto respeito, é entrar numa espiral que tende inevitavelmente a se esgotar.
            Talvez, este exercício de reflexão que faço agora, me ajude, ainda que minimamente, a desenvolver um grau de discernimento necessário a lidar com as inconstâncias da vida. Bom, o fato é que os arrependimentos que tive e o medo de errar novamente são os melhores combustíveis para manter-me focado e vigilante. Enfim, nada melhor do que se lembrar das próprias falhas, para evitar se esquecer de viver.  



                                       

                                ( Me Esqueci de Viver - José Augusto, a letra da música fala por si só )


2 comentários:

  1. Bela observação!
    Fantasiar uma vida perfeita da qual não fazemos parte é um exercício de auto-negação. Isso revela a inexistência de autoconhecimento e autoestima, incorrendo numa busca incessante ao que é externo para suprir o vazio existente...
    Acho que devemos procurar a felicidade dentro de nós mesmos, sendo consciente de quem somos e o que queremos, e assim nos aceitarmos por completo. Dessa maneira, viveremos harmoniosamente, com paz interior, e evitaremos o arrependimento de uma vida vazia.
    Parabéns pelo texto!

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  2. "[...]o fato é que os arrependimentos que tive e o medo de errar novamente são os melhores combustíveis para manter-me focado e vigilante. Enfim, nada melhor do que se lembrar das próprias falhas, para evitar se esquecer de viver. "

    Genial

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