Costumo
ver a depressão como uma prisão mental, um cárcere psicológico dentro do qual nossas
esperanças são sumariamente sequestradas e privadas da liberdade. Para além
disso, interpreto a depressão como um marginal que adentra nossas mentes e
maldosamente perverte toda a lógica do nosso sistema prisional, libertando
delinquentes como a angústia e a melancolia e retendo jovens de boa fé como os nossos
sonhos. Muito embora sejamos senhores de nossas próprias decisões, diante desta
tristeza profunda, parece que jogamos contra nós mesmos, como se uma parte de
nós precisasse ser mascarada e punida por simplesmente acreditar na mudança ou como
se houvesse uma ditadura mental dentro da qual não fosse permitida contestação.
Tal
qual uma criança abandonada que reclama por consolo numa madrugada fria de inverno,
assim também a depressão nos faz remeter diretamente à solidão, ao saudosismo e
à hipótese de que talvez nunca encontraremos amparo de uma mão a nos aquecer e
nos retirar da penúria na qual nos encontramos. Nesse sentido, devo admitir que
tal sentimento nos faz apegarmos mais fortemente ao passado, a o que
costumávamos fazer e às lembranças de que já fomos melhores, como se
renegássemos viver o presente e projetar o futuro, como se aquele cantinho
aquecido amontoado de velhas boas recordações fosse o bastante para saciar-nos
e manter-nos confortáveis pelo resto de nossa existência. Ledo engando, a
efemeridade da vida vem constantemente nos fazer lembrar que não é possível
sobreviver alimentando-se apenas de passado. É preciso saber degustar boas
doses do presente todos os dias.
E
diante desta enorme dicotomia entre permanecer no conforto ou ousar rumo às
incertezas da vida, surgem inúmeros questionamentos e inquietações. “Você não
precisa saber como vai morrer, apenas comece a viver.” Esta frase Poderia
parecer um clichê vinda de alguém que ainda não experimentou grandes
dificuldades na vida, ou mesmo de mim, dita apenas para dar ênfase ao meu
argumento. E seu eu lhe dissesse que foi dita por um jovem ciente de que
morreria três meses depois ? Sim, Zach Sobiech, um americano de 17 anos,
diagnosticado com uma doença rara nos ossos desde os 14¹. Longe de mim querer
defender a ideia de que se até esse rapaz conseguiu suportar de forma exitosa o
fardo da morte iminente então todos os demais casos de depressão são injustificáveis.
De modo algum poderia mensurar ou mesmo hierarquizar as causas deste
transtorno, pois somente quem sofre tem a exata medida deste valor. Prefiro,
por outro lado, ver esta experiência de um modo diferente. Não se trata do quão
forte é a dor do impacto, mas sim do quão forte é a sua vontade em supera-la.
Impressionante
como certas vezes é possível ter a sensação de que poucos dias valeram mais a
pena do que uma eternidade inteira. O Tempo, além de relativo é extremamente
curto, e todos nós sabemos disso. Neste sentido, optar por viver no passado e
se esquecer do agora que se materializa a todo o momento é com certeza a forma
menos racional de superar este estado aprofundado de amargura. Mas afinal de
contas meu caro, quem disse que a vida é racional ? E é justamente desta não
racionalidade que trato agora, seria uma enorme tolice minha se encerrasse este
texto ao estilo daqueles velhos manuais de auto ajuda, como se uma pessoa
deprimida não soubesse que superar a dor é o melhor para ela. Não há receita de
bolo, não há remédio e palavras mágicas, só o que há é uma realidade para ser
enfrentada. Muito mais uma realidade interna, muito mais uma realidade
psicológica, muito mais uma realidade que nos imbui a assenhorarmos de nossas mentes
libertando desolados reféns, pobres detentos que esperam ansiosamente a
oportunidade para exercer em fim suas potencialidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
sintam-se livres para sugerir criticar ou apenas deixar sua opinião !